Passados 90 dias da posse presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), o ex-ministro Fernando Haddad (PT) analisou as primeiras medidas do governo Bolsonaro (PSL) e apontou desafios e alternativas para a retomada do projeto democrático em entrevista concedida nesta segunda-feira (1º), na estreia do canal “À Esquerda” no YouTube. O projeto é uma iniciativa dos ex-senadores Lindbergh Farias (PT) e Vanessa Grazziotin (PCdoB), e tem o apoio do Brasil de Fato.
Em entrevista aos ex-parlamentares, Haddad comentou o crescimento da insatisfação da população com o novo governo. “O Brasil é muito maior que esse projeto que está no poder. O Bolsonaro representa um retrocesso muito grande no imaginário do brasileiro em relação ao seu próprio país. Eles não estão no poder há três meses: o que o Bolsonaro representa está há três anos no poder. O Paulo Guedes é um [Michel] Temer radical, um [Henrique] Meirelles radical. A gente cobra resultado porque faz três meses que eles prometeram que a PEC do Teto e a reforma trabalhista iam resolver os problemas. Eles vivem mentindo para as pessoas”, lamentou.
Ex-ministro da Educação dos governos Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT), Haddad interpreta que Bolsonaro escolheu a área educacional como inimiga pública número um: “O Ministério da Educação, que tinha um orçamento de R$ 20 bilhões, eu deixei com o orçamento de 100 [bilhões]. A direita, obviamente, sempre ficou batendo no Bolsa Família, dizendo que era ‘esmola para pobre’. Não era esmola. As portas das universidades estavam se abrindo para os pobres, para que eles superassem a necessidade do Bolsa Família com conhecimento, com educação, com domínio sobre a própria vida”.
Frente às ameaças ao Estado democrático de direito e às comemorações do novo presidente da República à ditadura militar (1964-1985), Haddad ressaltou a necessidade de uma mobilização popular massiva nas ruas em defesa da retomada do projeto democrático, expresso na Constituição de 1988.
"Nós estávamos defendendo até outro dia os direitos sociais da Constituição. Hoje, nós somos obrigados a defender os direitos civis, os direitos políticos, os direitos ambientais", disse. "Ou seja, ele representa uma ameaça ainda maior ao que foi acordado em 1988 como sendo um pacto social mínimo. Uma hora esse governo vai ter que entender que ele precisa representar todo o país, e não só aqueles que ele agregou em torno de um projeto obscurantista".
Às vésperas de se completar um ano da prisão política do ex-presidente Lula, Haddad também criticou as arbitrariedades da operação Lava Jato, que serviram para calar “um estadista que fez de tudo para mudar a vida do povo brasileiro, em especial dos mais pobres”.
"Nós geramos o maior saldo de empregos líquidos da história do Brasil. Foram 20 milhões de empregos em 12 anos que nós governamos. E ele [Lula] está pagando o preço disso", resumiu. "Para nós, é meio inacreditável. O Lula é como se fosse da minha família, para ser bem honesto. Os meus filhos tratam o Lula como se fosse da família, como se fosse um tio, um irmão mais velho, porque veem nele uma pessoa, até a medula, comprometida com o Brasil".
Haddad reforçou a importância da unidade dos setores progressistas para fazer frente ao governo Bolsonaro e impedir retrocessos nos direitos da classe trabalhadora. Para ele, a reforma do sistema bancário e a reforma do sistema tributário -- “arrecadar mais dos ricos e menos dos pobres” -- são o caminho para o fortalecimento da economia do país e para a redução das desigualdades.
“A cara do Brasil que a gente quer construir é um Brasil de todos, generoso, tolerante. Um Brasil de oportunidades, que é o que vinha sendo construído, tijolo a tijolo”, finalizou.
* Colaborou Emilly Dulce.
Edição: Daniel Giovanaz