Eduardo Bolsonaro e Olavo de Carvalho estão mergulhados no movimento que procura derrubar o governo de Nicolás Maduro, com o apoio a um político que não tem um voto sequer para presidente, Juan Guaidó.
Uma análise das páginas de venezuelanos envolvidos no movimento conspiratório mostra que Eduardo Bolsonaro é ativo participantes de reuniões promovidas pela oposição a Maduro, tanto no Brasil quanto na Colômbia e nos Estados Unidos.
Olavo de Carvalho, por sua vez, realizou cursos de formação política para grupos de venezuelanos.
O coordenador-geral de uma organização de extrema-direita chamada Rumbo Libertad, Eduardo Bittar, participou de um curso com o youtuber brasileiro, aparentemente nos Estados Unidos.
No final de uma das aulas, tirou foto da turma e postou no Facebook: “Isto cresce… e com isso a América toda tem salvação porque a esperança do nosso continente está sobre os ombros e as mentes dos homens e mulheres de bem dispostos a lutar contra todo o mal gerado pela esquerda.”
Olavo de Carvalho também é citado como referência em uma campanha contra o desarmamento na Venezuela. “El desarmamento es genocídio”, diz o cartaz, em que o youtuber aparece com um rifle.
O curso ministrado por Olavo de Carvalho teve como aluna a deputada colombiana Maria Fernanda Cabal. Uma foto mostra Maria Fernanda e os dirigentes da Rumbo Libertad a caminho da casa do youtuber, a bordo de um trem.
“As pessoas claras não podem ficar na sombra vendo como os responsáveis pela escuridão pretendem evitar que chegue a luz da liberdade”, escreveu um deles.
Uma análise desta e de outras páginas de conspiradores venezuelanos mostra que a relação deles com os bolsonaristas começou antes mesmo da eleição. Eduardo Bolsonaro é tão próximo deles que acompanhou a apuração das eleições ao lado de três dirigentes da Rumbo Libertad.
Uma foto postada no dia da eleição mostra Eduardo Bolsonaro de olho no notebook e a legenda explica: “Já sabem de onde vem a verdadeira ameaça ao status quo chavista na Venezuela e ao status quo socialista da América Latina?”
Eduardo Bolsonaro também é fotografado na companhia do grupo em visita ao ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e ao atual chanceler, Carlos Holmes Trujillo.
As visitas precederam o anúncio da suposta ajuda humanitária dos EUA a Venezuela, que, mais tarde, se soube tratar de uma operação para tentar derrubar Nicolás Maduro.
Quem o acompanha nessas visitas é Eduado Bittar. Os dois estiveram também na Ministério da Defesa da Colômbia, em dezembro do ano passado.
“Estive com a Eduardo Bolsonaro no comando geral das forças militares da Colômbia onde realizamos extraordinária reunião com funcionários do ministério da Defesa Nacional para unificar esforços na batalha contra os inimigos da liberdade”, escreveu o secretário geral da Rumbo Libertad.
O grupo postou uma entrevista de Eduardo Bolsonaro a W Rádio, da Colômbia, concedida dois dias depois da eleição. O tema é a Venezuela. “Nenhuma saída está descartada”, disse o deputado brasileiro, ao falar sobre a pressão para tirar Maduro do poder.
O entrevistador insiste: “Não está descartada uma intervenção militar?”
“Não, não está descartada a intervenção militar, mas quem vai falar com mais propriedade sobre isso é o comandante das Forças Armadas do Brasil”, afirmou ele.
É intrigante que Eduardo Bolsonaro tenha se manifestado para o público da Colômbia e da Venezuela antes mesmo de se dirigir a seus eleitores no Brasil. Seria apenas amor pela pátria alheia ou retribuição por algum apoio?
Nesta entrevista, Eduardo Bolsonaro admite sua ligação com a organização de extrema-direita e conta que existem membros da Rumbo Libertad no Brasil, na Colômbia, na Venezuela e também nos Estados Unidos.
Pela seu envolvimento com este grupo e as posições que antecipam o discurso de Donald Trump — “nenhuma opção está descartada” —, se entende por que ele foi convidado para participar da reunião na Casa Branca, substituindo o chanceler Ernesto Araújo.
Nesse movimento da extrema-direita na América Latina, Eduardo Bolsonaro tem se destacado, como se vê pelo apoio de venezuelanos e colombianos. Ele chegou até a ser entrevistado pela Fox News. Quem o indicou? Não tem méritos próprios para a entrevista na emissora.
A pauta da direita venezuelana é muito parecida com a de Bolsonaro. Em muitos pontos, é a mesma. O filho do presidente compara Lula e Dilma Rousseff a Hugo Chávez e Nicolás Maduro, o que é absolutamente impróprio. No conteúdo e na forma, foram governos muito diferentes.
Parece, no entanto, haver um movimento que não leva em consideração as diferenças reais entre os países. Unifica-se o discurso com um propósito idêntico: instalar a extrema-direita no poder.
Haveria uma força de fora do Brasil que impulsiona esses grupos?
Há indícios nesse sentido e uma boa pista é verificar as conexões de Eduardo Bolsonaro e de Olavo de Carvalho.
A rede social indica, mas o que sai ali a materialização de contatos que começaram a ser travados muito antes.
Trump, como contou o ex-diretor adjunto do FBI Andrew McCabe, disse em uma reunião com agentes do órgão que deseja uma guerra com a Venezuela, por causa do petróleo.
Até onde Eduardo Bolsonaro está comprometido com esse projeto?
A Lei de Segurança Nacional tipifica como crime autoridades brasileiras que alienam a soberania do Brasil.
Edição: DCM