Investigação

O que se sabe sobre a morte de Dilma Silva, do MAB, e outras duas pessoas no Pará

Além dela, foram assassinados na quinta (21) o marido, Claudionor Costa da Silva, e Hilton Lopes, amigo do casal

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Atingidos pela usina de Tucuruí (PA) lutam há mais de 30 anos para garantir direitos
Atingidos pela usina de Tucuruí (PA) lutam há mais de 30 anos para garantir direitos - Divulgação / MAB Pará

Na última sexta-feira (22), a Polícia Civil registrou um triplo homicídio ocorrido na zona rural de Baião, nordeste do Pará. Entre as vítimas, estava Dilma Ferreira Silva, 47 anos, atingida pela hidrelétrica de Tucuruí (PA) e coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) na região desde 2005. Além dela, foram mortos o marido, Claudionor Costa da Silva, 42 anos, e Hilton Lopes, 38 anos, amigo do casal. O crime ocorreu na própria casa de Dilma, no assentamento Salvador Allende.

A usina de Tucuruí, construída durante a ditadura militar, é a terceira maior do país, atrás apenas das hidrelétricas Itaipu, no Paraná, e Belo Monte, também no Pará. Ela localiza-se no rio Tocantins, a 310 km da capital Belém (PA). Cerca de 32 mil pessoas foram deslocadas de suas moradias para construção da barragem, e há mais de 30 anos lutam para garantir direitos. Segundo o MAB, não houve a devida compensação aos atingidos.

Em 2011, Silva participou de uma audiência com a então presidenta Dilma Rousseff (PT) e entregou um documento em que pedia uma política nacional de direitos para os atingidos por barragens, com atenção especial par as mulheres atingidas.

A investigação

Segundo as informações colhidas no local, cinco pessoas, em três motocicletas, chegaram às 21 horas de quinta (21) à casa de Dilma, onde também funcionava um pequeno comércio. Durante toda a noite, ouviu-se música alta -- os vizinhos estranharam, pois não era hábito do casal. 

No dia seguinte, pela manhã, o ônibus escolar parou em frente à casa da militante, que trabalhava como monitora na escola da comunidade. Ao desembarcarem ao local, os profissionais do transporte encontraram os três corpos. As três vítimas foram amarradas, amordaçadas e, segundo os primeiros indícios levantados pelos investigadores, assassinadas a golpes de arma branca.

A faca usada nos crimes foi encontrada e encaminhada para perícia.

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A coordenadora do MAB teve a garganta cortada e apresentava marcas de lesões corporais -- a polícia trabalha com a hipótese de que ela foi torturada. Ainda não se sabe a motivação do crime, que tem sido tratado pelos investigadores como execução.

A Secretaria de Segurança Pública do Pará se manifestou por meio de nota e disse que a Polícia Civil criou uma força-tarefa específica para investigar o triplo homicídio. "Até o momento, não é possível fechar uma linha de investigação para motivação do crime”, ressalta o texto.

A área onde Dilma vivia era uma antiga ocupação, mas já estava regularizada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desde 2012 e, portanto, não é considerada oficialmente uma área em disputa. 

Nenhum suspeito foi preso até o momento.

O sepultamento da militante ocorreu no final da tarde de sábado (23) em Monte Castelo (MA), município de origem da família.

Helder Salomão (PT/ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), cobrou na última sexta-feira que Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, Ualame Machado, secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, e Gilberto Martins, procurador-geral de Justiça, tomem providências o mais rápido possível para apurar o assassinato. O MAB pretende se reunir esta semana com Machado para tratar do caso e pedir medidas de proteção aos defensores de direitos humanos no estado.

De acordo com monitoramento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dilma é a primeira ativista pelo direito à terra a ser assassinada na Amazônia em 2019.

O território

O assentamento Salvador Allende está localizado no km 50 da Rodovia BR-422, conhecida como Transcametá. O assentamento é fruto da ocupação da fazenda Piratininga, feita em 2011 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Após um despejo feito por pistoleiros, o MAB se juntou ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf) na organização das famílias.

A área foi reivindicada, então, pelo fazendeiro Renato Lima. Ao constatar que ele não tinha documentação da terra, o Incra iniciou a negociação para destinar a área para reforma agrária e, em 2012, começou a distribuição dos lotes às famílias. Dilma recebeu um lote e passou a se dedicar ao trabalho na agricultura e à organização de um grupo de base no MAB na comunidade.

Edição: Daniel Giovanaz