CENSURA?

Bolsonaro nomeia comissão que irá fazer análise “ideológica” de questões do ENEM

Composta por três homens, comissão terá dez dias para apresentar relatória sobre questões de gênero e política

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O ministro da Educação, Ricardo Vélez, diz ser contra a "ideologia de gênero" e em favor da família tradicional e da igreja
O ministro da Educação, Ricardo Vélez, diz ser contra a "ideologia de gênero" e em favor da família tradicional e da igreja - Gedalio junior via Wikimedia

O governo Bolsonaro, em mais um capítulo de sua missão de “expurgar a esquerda”, anunciou quem serão os três responsáveis, dentro do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que conduz o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), por fiscalizar e censurar o que considerarem “questões ideológicas”.

A comissão, anunciada em fevereiro, terá dez dias para entregar sua avaliação, podendo recomendar a exclusão de determinados itens que considere “ideológicos”.

O termo ideologia, usado vulgarmente por Jair Bolsonaro, nada mais é que um sinônimo de ideário, ou seja, o conjunto de ideias, pensamentos, visões de mundo e doutrinas de um determinado indivíduo ou grupo, que irá usá-la para orientar ações e políticas.

A comissão do Inep é composta por três homens que irão fiscalizar, entre outras coisas, a existência de questões sobre gênero: Antônio Maurício Castanheira das Neves, diretor de estudos educacionais do Inep, Gilberto Callado de Oliveira, procurador de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina e Marco Antônio Barroso, secretário de Regulação e Supervisão.

O ENEM é a principal forma de entrada das universidades federais do país e em 2018 foi prestada por 5,5 milhões de jovens. Tanto Bolsonaro, quanto seu ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, fazem do que chamam de “ideologia de gênero” uma plataforma política e um campo de batalha, exaltando a família tradicional e a Igreja como contrapontos.

No ano passado, uma questão sobre linguística e interpretação de texto que citava o “pajubá”, conjunto de gírias usadas pela população LGBT, foi criticada por Bolsonaro. Em 2015, a redação teve como tema “A persistência da violência contra a mulher brasileira” e foi tratada pelo então deputado como “tentativa de doutrinação”.

Um levantamento da Folha de S.Paulo mostrou que só em janeiro deste ano 179 mulheres foram vítimas de feminicídio ou sobreviveram a uma tentativa de feminicídio, uma média seis crimes por dia. A pesquisa do jornal também revelou que 71% dessas mulheres foram atacadas pelo atual ou ex-companheiro. Ainda segundo a publicação, de cada 4 suspeitos, 1 tinha histórico de violência ou antecedentes criminais.

Educadores ressaltam que a educação é uma ferramenta para combater esse tipo de violência e a Organização das Nações Unidades coloca que a igualdade de gênero é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o mundo.

*Com informações da Folha de S. Paulo.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira