Desde domingo (24), 500 representantes de 87 países se encontram na capital venezuelana, Caracas, onde é realizada a Assembleia Internacional dos Povos (AIP) até a próxima quarta (27). Para muitos dos que chegaram à Venezuela em meio a um bombardeio midiático negativo sobre o país, a realidade encontrada gerou surpresa. É o que conta a brasileira Jessy Dayane, vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE).
“No Brasil, minha família já me dizia: cuidado, se prepare. Ou seja, toda uma tensão antes da vinda porque as notícias mostravam que o país estava em plena guerra civil com bombas e tiros o tempo inteiro. E quando a gente chegou aqui, encontramos um cenário de paz. As pessoas estão indo trabalhar normalmente, as crianças estão estudando”.
O tratamento dado aos problemas sociais da Venezuela, em grande parte, gerados pelo boicote econômico de potências como Estados Unidos, não condiz com a abordagem dada a outras realidades, com problemas ainda mais graves. O mexicano Madgriel Sánchez, do Proceso por la Nueva Constituyente Ciudadana y Popular conhece bem a dupla moral dos meios de comunicação ao redor do mundo, que invisibilizam questões sociais importantes e um dos países mais violentos das Américas.
“No México, diariamente, são assassinadas dez mulheres, 14 pessoas são desaparecidas, se fala de 32 pessoas assassinadas diariamente. Vivemos um clima de muita violência em que os grupos delinquentes dominam grande parte do país. Temos um país com muita destruição ambiental, muitas injustiças, e disso não se fala, é como se fosse o normal. Sim, a Venezuela não é normal mas em um sentido muito diferente. Aqui vemos paz, vemos as pessoas, por mais simples que sejam, vivendo com dignidade e com uma consciência muito forte e com o sentimento patriótico de defender-se a si mesmos”.
O mesmo acontece no caso do Brasil, diz Dayane. “Para quem mora em São Paulo, por exemplo, andar pelas ruas de São Paulo é lidar com muitos moradores de rua. Muita gente que não tem comida, não tem trabalho, não tem escola”.
Nesta terça-feira (26), os participantes da AIP percorreram diversas regiões de Caracas, para verificar in loco a real situação do país. “Eu vi muita alegria, tranquilidade nas pessoas, muitas expressões de agradecimento pela nossa visita. Eu sempre pensei que toda essa deformação da realidade da Venezuela é construída para justificar uma invasão de qualquer natureza pelos Estados Unidos. A invasão militar é o máximo que podem fazer, disso eu tenho certeza”, disse a salvadorenha Blanca Flor Bonilla, da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional.
Sobre intervenções estadunidenses em assuntos internos de seu país, o mexicano Sánchez conhece bem. “Tivemos no México 14 invasões militares, um controle majoritário da economia é feito pelos Estados Unidos, e por isso estamos sujeitos a eles. Apesar de termos um governo diferente hoje, não pudemos solucionar a violência e os problemas sociais que vivemos no México, principalmente porque são estruturais e têm a ver com a presença dos Estados Unidos”.
A Assembleia Internacional dos Povos é uma articulação de movimentos sociais, organizações civis e partidos políticos que vem sendo construída nos últimos dois anos com a participação de representantes de mais de 130 países. A reunião em Caracas marca, não só a inauguração da plataforma global, mas também serve como um ato de solidariedade ao povo da Venezuela e ao seu governo, liderado pelo presidente Nicolás Maduro, reeleito em maio de 2018 para um novo mandato de seis anos, de acordo com a Constituição do país.
*Com colaboração do coletivo de comunicação da AIP
Edição: Mauro Ramos