Três vezes eleito para deputado federal pelo PSOL no Rio de Janeiro, Jean Wyllys anunciou na tarde desta quinta-feira (24) que abrirá mão de seu mandato e sairá do país. Ele disse que não tem planos de voltar e que deve se dedicar à vida acadêmica.
Wyllys, que vive desde a execução de Marielle Franco, em março de 2018, sob escolta policial, afirmou que há uma intensificação das ameaças de morte -- que já aconteciam mesmo antes do assassinato da vereadora.
"Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", afirma Wyllys à Folha de S. Paulo. "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim".
O baiano, radicado no Rio de Janeiro, foi o primeiro parlamentar assumidamente gay a encampar a agenda LGBT+ no Congresso Nacional, o que o tornou alvo da ira de grupos conservadores.
Recentemente, Wyllys venceu um processo por difamação contra o também eleito deputado federal, Alexandre Frota, que o acusou nas redes sociais de defender a pedofilia.
"Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!", declarou, no Twitter.
Em seu lugar, deverá entrar o jornalista e vereador David Miranda, que fez cerca de 15 mil votos -- dois mil a menos que Wyllys. Miranda, que se descreve como "preto, favelado e primeiro vereador LGBT do RJ, midialivrista e pela causa animal", terá sua vaga ocupada na Câmara dos Vereadores por Marcos Paulo, também do PSOL.
Solidariedade
Colegas do PSOL e de outros partidos no Congresso Nacional se solidarizaram com Wyllys.
Em texto assinado pelo líder Paulo Pimenta (PT-RS), a Bancada do PT na Câmara dos Deputados divulgou, nesta quinta-feira (24), uma nota exgindo apuração das ameaças por parte dos órgãos competentes. O partido entende que as ameaças ao deputado “expressam uma coação não apenas ao parlamentar do PSOL, mas a todos os defensores e defensoras de direitos humanos, detentores de mandatos populares ou não”.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira