Max Pinho, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, esteve na Vigília Lula Livre, em dezembro, para trazer uma reflexão sobre os desafios de organizar as pessoas em seus locais de trabalho. Para ele, é preciso realizar o trabalho sindical, mas também trabalhar com questões amplas como é o caso da campanha pela libertação de Lula. “A gente fala que a maior formação política é o dirigente sindical no local de trabalho a todo momento dialogando com os trabalhadores”, aponta, explicando também que trabalho de base, comissões de fábrica e formação são componentes indispensáveis para o atual momento.
Brasil de Fato: Um dos desafios do atual momento é conseguir que os trabalhadores estejam organizados e com referência nas organizações. Como tem sido a experiência de vocês?
Max Pinho: Nos metalúrgicos do ABC a gente tem como referência as antigas comissões de fábrica, hoje é o comitê sindical por empresa, e a gente tem a representação do diretor sindical dentro da fábrica, então isso possibilita que a gente esteja no dia a dia dialogando com os trabalhadores sobre o que está acontecendo nesse momento, sobre organização e a posição da classe trabalhadora, disputa de classes, e para esse momento específico a gente tem traduzido nossa discussão na criação do Comitê Lula Livre dentro da fábrica. Onde tem a participação dos trabalhadores. A gente se reúne, trabalhadores de vários setores, mensalmente nas salas da comissão de fábrica, onde discutimos planejamento de ações, quais atividades realizar, material para a gente distribuir no chão de fábrica com os trabalhadores.
É um desafio conseguir essa confiança no dia a dia e nas bandeiras econômicas para então poder defender uma bandeira política como Lula Livre? Como vocês fazem esse vínculo?
Fazemos as duas coisas juntas. Enquanto dirigentes sindicais, temos nossas atribuições sindicais que é discutir campanha salarial, melhores condições de trabalho, lutando e resistindo contra as demissões. Nesse momento começamos a conquistar algumas contratações, novos trabalhadores entrando na fábrica, e dentro da atribuição do sindicato, é também a politização dos trabalhadores. Então, além de programações que temos no sindicato, de formação política, a gente fala que a maior formação política é o dirigente sindical no local de trabalho a todo momento dialogando com os trabalhadores. Esse é o processo contínuo na busca de conscientização da classe trabalhadora.
A Comissão de fábrica segue sendo um espaço de organização? O que fazer para fortalecê-la?
Há uma resistência das grandes empresas contra o papel da comissão de fábrica. Então no ABC foi muita greve na década de 80, para a gente conquistar as comissões de fábrica. Na época quando o Lula ainda era presidente do sindicato, numa assembleia com a militância ele fez um discurso falando que toda aquela militância, a partir daquele dia, tinha que acordar, comer e ir dormir pensando em comissão de fábrica. Então, toda a greve que tinha por questões salariais ou por questões de trabalho, aí sempre colocava na pauta as criações da comissão de fábrica, até que em 1983 começamos a constituir as primeiras comissões de fábrica. Agora, tem uma grande resistência da classe patronal e uma forma que a gente tem para dialogar com os outros sindicatos é com os congressos de nossas centrais, somos da Central Única dos Trabalhadores, e sempre tem esse debate sobre criação das comissões de fábrica.
O imposto sindical sempre foi algo limitado, mas sofreu ataque de setores contrários a organização dos trabalhadores. E agora, como sustentar os sindicatos, quais os desafios?
A forma como o governo impôs o fim do imposto sindical, não reconheceu todas as centrais sindicais e nem reconheceu ainda a importância do papel do sindicato no local de trabalho. Com o fim do imposto sindical muitos sindicatos estão enfrentando algumas dificuldades, então começa a haver discussão sobre algo diferente. É uma coisa nova, em processo ainda, não dá para falar ainda como será isso. Mas muitos sindicatos devem buscar alternativas conjuntas e coletivas para encontrar um sistema que sustente a estrutura dos sindicatos, e preparar os dirigentes para representar os trabalhadores. Esse é o desafio que está colocado para o movimento sindical.
Edição: Mauro Ramos