Muitos estão tristes, não tem como não estar. Mas não podemos transformar a tristeza e as lágrimas em desespero, nem em desesperança. A derrota também ensina, se tivermos disposição e um pouco de serenidade pra aprender com ela.
Por que um fascista como Bolsonaro venceu as eleições?
O golpe de 2016 no Brasil se inseriu em um contexto muito maior do que parece, no contexto de uma crise do capitalismo mundial, que se prolonga há mais de dez anos. De uma ofensiva política e ideológica contra o nosso País e muitos outros, de grandes capitalistas internacionais, principalmente do sistema financeiro. Eles buscam manter seus ganhos extorsivos às nossas custas, e conseguem permanecer quase invisíveis enquanto seus representantes fazem o jogo sujo.
Foi um golpe articulado para que desde os trabalhadores, essencialmente, até os pequenos empresários e o Brasil pagassem a conta dessa crise. Pra isso, os golpistas vêm cortando os nossos direitos, vêm destruindo a estrutura nacional produtiva, vêm espoliando nosso petróleo e nossas riquezas naturais, entregues às multinacionais estrangeiras a preço de banana.
Esse golpe conseguiu não só piorar as condições de vida do povo, como preparou e abriu terreno para o conservadorismo e, inclusive, o fascismo, que contagiaram até as classes populares. Foi assim que Bolsonaro venceu.
Uma vitória eleitoral de Haddad seria importantíssima e poderia desacelerar essa ofensiva por um período. Mas a verdade é que, por si só, seria insuficiente para revertê-la, porque o golpe também congelou e implodiu, através de medidas como a Emenda Constitucional 95, a destruição do BNDES e o controle de instituições, as poucas estruturas que ainda possibilitariam alguma política de desenvolvimento nacional combinada com transformação social. Porque a capacidade de dominação política e ideológica das classes dominantes se encontra muito forte, enquanto a capacidade de luta popular está bloqueada.
Não vamos nos iludir, continuaremos sendo golpeados por um longo e penoso tempo, sem nenhuma misericórdia. Mas, o caráter anti-popular desse projeto golpista será, pouco a pouco, percebido pelo povo brasileiro, que buscará e criará formas de lutar contra ele.
Durante as eleições, em uma intensidade que há décadas não acontecia, muitos abriram a boca e os ouvidos para falar e ouvir o povo, pedir votos nas periferias e portas de fábrica, dialogar. Passadas as eleições, permanece a necessidade de criar vínculos entre os trabalhadores, agora de forma muito mais calma, ordenada e profunda, estimulando a organização popular, conquistando os poucos, pouco a pouco. Essa é uma das lições que temos que aprender com a derrota em curso.
Neste momento, preservar a vida, preservar a vontade e preservar a crença no povo será, em si, um ato revolucionário. Não tenho dúvidas que o projeto popular de País que sempre arrancaram de nós um dia vai raiar. Faremos o dia que as grandezas do Brasil darão ao povo brasileiro a capacidade de definir o nosso próprio destino.
Como dizia Che Guevara, “derrota após derrota até a vitória final”.
* Herick Argolo é militante da Consulta Popular (SE)
Edição: Cecília Figueiredo