Após 36 anos de governo na região autônoma da Andaluzia, na Espanha, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) sofreu uma derrota nas eleições regionais que aconteceram neste domingo (02/12) e não deve alcançar maioria para governar. Por sua vez, a legenda de extrema-direita Vox alcançou um feito inédito e elegeu 12 representantes.
O PSOE, partido do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, conquistou 27,9% dos votos e caiu de 47 para 33 assentos no Parlamento regional. Com o resultado, os socialistas devem perder a hegemonia na região que governam há 36 anos.
A aliança Adiante Andaluzia (AA), parceira do PSOE no governo regional, conquistou 16,2% dos votos e 17 cadeiras, mas os dois juntos não conseguirão garantir os 55 assentos previstos para formar maioria no Parlamento.
Com discurso nacionalista e anti-imigração, o partido de extrema-direita Vox conquistou 11% dos votos e elegeu 12 deputados. Segundo o jornal El País, com esse resultado é a primeira vez que a extrema-direita volta a ter representantes em um Parlamento espanhol desde o fim do partido Fuerza Nova, liderado por Blas Piñar, que se propunha a continuar a ideologia da ditadura franquista.
Para a socióloga e professora de Relações Internacionais da Unifesp, Esther Solano, o resultado das eleições em Andaluzia foi inesperado e pode ser comparado à eleição de Jair Bolsonaro no Brasil.
Em postagem no Facebook, a professora afirma que "é como se o PT perdesse o Nordeste para a direita. O pior é o surgimento de uma extrema-direita ao estilo Bolsonaro que, subitamente, e deixando todo o mundo de queixo caído, ganhou 12 deputados".
Segundo a pesquisadora, os membros do Vox "se apresentam como antissistema, antifeministas, religiosos, por uma 'Espanha grande de novo'; são contra a dominação cultural marxista, dizem que o sistema é todo corrupto, dizem que Podemos [partido de esquerda] vai transformar a Espanha em Venezuela".
Solano ainda destaca que vários dos representantes eleitos pela legenda "são ex-militares e ex-policiais. O líder do Vox em Andaluzia é um juiz que diz que 'não é político'. Assustadoramente igual dos dois lados do Atlântico".
Vox
Contrário ao aborto, ao casamento homossexual, ao independentismo de regiões autônomas como Catalunha e Andaluzia, o Vox elegeu seus representantes com uma forte campanha anti-imigração e ataques contra minorias étnicas e religiosas.
Após o resultado, a governadora da região, Susana Díaz, do PSOE, fez um apelo aos outros partidos para que se posicionem contra extrema-direita.
"Faço um chamado às forças constitucionalistas: vamos parar a extrema-direita na Andaluzia. Eu, ao menos, tentarei", disse a socialista.
Díaz antecipou as eleições de março de 2019 para dezembro de olho em pesquisas que apontavam seu favoritismo. Oficialmente, o objetivo era garantir mais estabilidade ao governo.
Em sua conta no Twitter, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que seu governo seguirá trabalhando por um projeto "regenerador" para a Espanha e que defenderá a Constituição e a democracia.
"Meu governo seguirá impulsionando um projeto regenerador e europeísta para a Espanha. Os resultados em Andaluzia reforçam nosso compromisso em defender a Constituição e a democracia frente ao medo", afirmou o premiê.
PP e Ciudadanos
A disputa pela maioria do Parlamento regional de Andaluzia deve ficar entre o conservador Partido Popular (PP) e a legenda de direita Ciudadanos, do ex-premiê Mariano Rajoy.
O PP alcançou 20,8% dos votos e garantiu 26 assentos. Já o Ciudadanos obteve 18,3% e saltou de nove para 21 deputados eleitos.
Tanto o líder do PP na região, Juan Manuel Moreno, quanto o do Ciudadanos, Juan Marín, reivindicam o direito de governar a região e cogitam uma aliança com o Vox. Juntos, os três partidos terão 59 assentos no Parlamento, alcançando a maioria prevista de 55 representantes.
Edição: Opera Mundi