JUSTIÇA

Do apito ao vídeo: o papel da arbitragem

Polêmicas geram clamor pelo uso do árbitro de vídeo. Pouco se fala, porém, em melhorar as condições de trabalho

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O amado e odiado “juiz” do futebol
O amado e odiado “juiz” do futebol - Foto: Joka Madruga

Embora não seja a figura de destaque no espetáculo do futebol, o árbitro tem a importante função de fazer justiça dentro de campo. E, assim como é para os jogadores, o juiz e seus bandeirinhas e auxiliares são apaixonados pelo esporte e também estão sujeitos ao calor da emoção.

“Apitei futebol por 27 anos. O árbitro sempre tem que estar preparado para trabalhar sob pressão de todos os lados”, aponta o ex-árbitro e comentarista esportivo Carlos Eugênio Simon. “As emoções no futebol são muito intensas, por isso é importante o árbitro estar sempre bem amparado, ter suporte como psicólogos, preparadores físicos, fisioterapeutas, massagistas etc. Nesse sentido, a profissionalização tem de ser uma prioridade”, avalia.

No Brasil, o árbitro é um trabalhador autônomo e sem vínculo trabalhista. Muitos possuem outros empregos e o apito é uma atividade secundária. O jornalista esportivo Juca Kfouri vai além. Para ele, o sistema de arbitragem “não funciona e não bastará a sua profissionalização. Há que ser independente da CBF”. Ele entende que a escala de árbitros e as orientações são utilizadas como instrumentos de poder e intimidação pela confederação, já que os “cartolas morrem de medo de verem seus times prejudicados e dizem amém a tudo que vem da CBF”.

Para Simon, a arbitragem brasileira não está numa boa fase. “Diria até que está abaixo da média de outros países, mas temos ali pessoas honestas que procuram exercer a arbitragem da melhor maneira possível”. E lamenta a falta de vontade política para resolver os problemas: “Infelizmente, como disse Armando Nogueira, ‘os árbitros somente são lembrados pelos dirigentes quando erram contra suas equipes’”.

A chegada do árbitro assistente de vídeo

O VAR, sigla em inglês para árbitro assistente de vídeo, foi utilizado oficialmente na Copa do Mundo da Rússia. Nos 64 jogos, foram 455 lances analisados e 20 revisões de jogadas, inclusive na final, no pênalti marcado para a França, contra a Croácia. No Brasil, foi usado a partir das quartas de final da Copa do Brasil de 2018, com recursos da CBF, com 14, 15 ou 16 câmeras por partida e árbitro de vídeo, assistente, operador e supervisor.

.

Parte interna da sala do VAR no primeiro jogo da Final da Copa do Brasil / Daniel Teobaldo/StaffImages

Já no Campeonato Brasileiro, a implantação foi vetada por 12 dos 20 clubes ainda no início do ano. O principal motivo foi o alto custo, cerca de R$ 1 milhão, que seria repassado aos clubes. Na reta final, porém, constantes erros de arbitragem uniram 15 clubes pelo seu uso nas seis últimas rodadas, num movimento que Kfouri denomina “mera demagogia”, pois “os prejudicados gritam pelo VAR quando o erro é contra eles e calam quando é a favor”. O pedido foi negado pela CBF, que avalia utilizar em 2019.

Apesar da crítica, o jornalista esportivo compartilha da opinião de muitos e vê seu uso “como essencial”. Já Simon tem falado nas transmissões do Fox Sports que o VAR é o melhor amigo dos árbitros. “Sou favorável a tudo que legitime com justiça o resultado de uma partida de futebol”, conclui o ex-árbitro.

Erros de arbitragem que marcaram época

Argentina 2 x 1 Inglaterra – Copa do Mundo de 1986
O famoso gol de mão feito por Maradona abriu o placar no jogo entre Argentina e Inglaterra nas quartas de final da Copa no México. Nem árbitro nem bandeirinha perceberam a irregularidade e o gol foi validado. Os sul-americanos venceram por 2 a 1. “Eu marquei o gol um pouco com a cabeça e um pouco com a mão de Deus”, comentou Maradona.

Corinthians 1×1 Internacional – Campeonato Brasileiro de 2005
A competição já estava manchada pelos escândalos de arbitragem da Máfia do Apito. Mas o que determinou diretamente que o título do campeonato fosse do Corinthians e não do Inter foi o pênalti não dado do goleiro Fábio Costa sobre Tinga. O árbitro ignorou o pênalti e expulsou o volante colorado.

Brasil 1 X 1 Suíça – Copa do Mundo de 2018
A CBF chegou a reclamar junto à FIFA sobre o jogo entre Brasil e Suíça, na fase de grupos da Copa do Mundo da Rússia. Uma falta no zagueiro Miranda, no gol de empate da Suíça, e um pênalti em Gabriel Jesus não foram marcados e o VAR sequer foi acionado.

Grêmio 1 x 2 River Plate – Libertadores 2018
No primeiro gol da virada de 2 a 1 do River sobre o Grêmio, que tirou o tricolor da Libertadores, a bola tocou no braço do atacante Rafael Borré antes de entrar. “É inadmissível a Conmebol gastar o que gasta com o VAR e acontecer essa palhaçada. O Grêmio hoje foi roubado”, comentou o treinador Renato Portaluppi.


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 7) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.

 

Edição: Ayrton Centeno