A eleição de Bolsonaro assume a condição de um marco mundial definidor no processo de refeudalização da sociedade e destruição do Estado nacional, da República e do Estado de Direito.
O sintoma mais claro de que a esfera pública democrática brasileira estava em perigo foi o crescente retrocesso do jornalismo nacional, derrotado em parte pelas novas tecnologias narcisistas e pretensamente interativas e em parte pelo suicídio meticulosamente planejado por empresários medíocres e reacionários.
Da diminuição do jornalismo aparece aquilo que vai se transformar no carrasco da democracia, uma velha novidade que vai ser apelidada pela própria imprensa nocauteada de fake news, ou seja, notícia falsa. Estranhamente, a imprensa assume o crime que tenta atribuir às novas tecnologias. Chama de notícia aquilo que é apenas mentira, boato, calúnia, injúria, quer dizer, aquilo que sempre existiu no mundo não digital.
A confusão é tanta que a imprensa assume o crime das redes sociais e, pior, põe a sua marca: chama de news o fake. Mas, de alguma maneira, faz isto porque sabe que a mentira, a calúnia etc. nunca foram monopólio das redes. Ao contrário, sabe que, afinal de contas, foi ela que, ao abandonar o jornalismo, criou o ambiente que iria destruir a política e a democracia.
Agora, se foi a ausência do jornalismo, transformado em sensacionalismo, propaganda ou má literatura que permitiu que o boato digital se transformasse no seu sucedâneo, será a presença do jornalismo que irá reverter esta situação e permitir que a esfera pública, assentada numa imprensa crítica e livre, se restabeleça.
O jornalismo, que não é invenção dos jornalistas nem mesmo das empresas do jornalismo. O jornalismo sempre foi uma necessidade social e como tal não desaparecerá mesmo que este seja o desejo das forças conservadoras contemporâneas, principalmente dos donos de jornais. À sociedade caberá apoiar e fortalecer iniciativas onde esta narrativa que pretende a verdade seja garantida.
* Celso Augusto Schröder é jornalista e professor
Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 7) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.
Edição: Marcelo Ferreira