Lula, ao completar cinco anos da liberdade duramente conquistada, quando saiu com a inocência reconhecida da prisão de Curitiba, convidou os religiosos que o visitaram na prisão para um momento de celebração, fé, solidariedade – e se transformou num momento profundamente místico – no Palácio Alvorada, residência oficial do presidente da República, no dia 8 de novembro.
Momento ecumênico e inter-religioso, onde cantos, textos bíblicos, bênçãos, emoções, palavras, gestos e flores se misturaram numa serena celebração de paz e de olhar para o futuro, cheio de incertezas, desafios, disputas, asperezas e dificuldades. No momento celebrativo a esperança viva e ativa triunfou. Que triunfe no mundo real.
Estive com Lula por uma hora durante seu tempo de prisão. E estive neste 8 de novembro inesquecível, junto com figuras icônicas da fé em Jesus e na fé de Jesus vivida na ótica da defesa e da autodefesa das massas empobrecidas dos campos, dos povoados, das aldeias, das matas, das beiras de rios, dos quilombos e das cidades pequenas, médias e grandes. Outras denominações religiosas não cristãs também presentes, mas com perspectiva semelhante.
Uma sensação serena e forte perpassou o ambiente: as esperanças do povo brasileiro e as esperanças do mundo estão com os olhares fixos em Lula. E ele percebe o tamanho de sua missão e de sua responsabilidade. Percebe também que ele não é um indivíduo político com um país para administrar. Sabe que é um símbolo coletivo vivo – concentra em si a soma das energias e das esperanças de milhões de pessoas – que não se move sozinho e que sua missão é cuidar.
E cuidar também é um ato coletivo que precisa despertar e fortalecer processos sociais, políticos, e, até espirituais, que se somem, se unam, se fortaleçam, ganhem musculatura política, se transformem em força de povo organizado, para se sobrepor à onda fascista e à sanha de lucro de minorias poderosas – que com suas mídias mentirosas e seus falsos profetas iludem e enganam o povo.
Lula somos nós e nós somos em Lula. E é nesta unidade de um símbolo coletivo vivo com um povo em movimento que brota com força o esperançar (esperança agindo) do povo brasileiro e até do mundo, que vê no Brasil um ponto de apoio para construir um planeta saudável, justo, sem fome, com poder mundial melhor equilibrado e em paz.
E Lula parece estar com o olhar político fixo no horizonte. A impressão é que ele sabe que é o futuro que comanda o presente. Quem não vê futuro, não se move no presente. Quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve.
A “obsessão” de Lula por educação tem no horizonte nossa juventude com melhores condições de vida. Quando “move montanhas” por pleno emprego, tem no horizonte as famílias trabalhadoras em suas agonias dos dias e noites sem trabalho e sem condições de sonhar e ter perspectivas de futuro. Quando fala em “acabar” com a fome, sabe das consequências de passar fome na infância e como isto rouba o futuro de milhões de seres humanos frágeis e inocentes.
São utopias ainda pequenas, mas necessárias como passos a trilhar, para uma sociedade livre e feliz que queremos construir. São base para o futuro.
Claro que precisamos ir além, muito além, até para propor e delinear utopias que encantem a juventude, que renovem a política, que humanizem as religiões (religião desumana perde o rumo do divino), que respeitem as pessoas como elas são, que protejam a vida, a natureza e o planeta, que reconstrua o tecido social ferido e doente para uma vida saudável, simples, sem pressão de necessidades imediatas (com casa, comida, saúde, trabalho, terra, lazer e conforto), capaz de colocar o amor e a paz no centro de nossas existências.
Temos Lula e nós mesmos – com nossa fé e todas as nossas bagagens culturais carregadas de esperança - nos recriado de forma permanente para vencer e superar esta dura fase da história da humanidade e do povo brasileiro.
Que a conquista da liberdade de Lula seja um clarão de luz a iluminar o trajeto da conquista de todas as liberdades que ainda precisamos.
* Frei Sérgio Antônio Görgen ofm é frade franciscano, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Via Campesina.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko