LAVA JATO

Lula nega envolvimento com obras no sítio de Atibaia; assista na íntegra

Ex-presidente prestou depoimento nesta quarta (14), na Justiça Federal do Paraná

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
O ex-presidente Lula no dia 7 de abril, antes de apresentar-se à Polícia Federal
O ex-presidente Lula no dia 7 de abril, antes de apresentar-se à Polícia Federal - Foto: Miguel Schincariol / AFP

Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi preso na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, não se tinha um registro novo de sua imagem ou voz. Da PF, Lula se comunica com o povo através das pessoas que o visitam ou de bilhetes escritos à mão. Nesta quarta-feira (14), a população brasileira pôde ver e ouvir o ex-presidente pela primeira vez depois de 223 dias, em gravação do depoimento prestado à Justiça Federal do Paraná. 

Logo no início do depoimento, Lula pediu à juíza substituta Gabriela Hardt que explique qual é a acusação que pesa contra ele. "Doutora eu gostaria de perguntar para esclarecer, porque estou disposto a responder toda e qualquer pergunta: eu sou dono do sítio ou não?", completando com a afirmação “quem tem que me responder é quem me acusou”.

A denúncia do Ministério Público é de Lula seria beneficiário de reformas custeadas pelas empreiteiras OAS e Odebrecht em um sítio em Atibaia, interior de São Paulo, frequentado por Lula e sua família e de propriedade de Fernando Bittar. As obras teriam totalizado mais de R$ 1 milhão. 

Perguntado sobre a possibilidade de que sua esposa, Marisa Letícia, tivesse solicitado obras às empreiteiras, Lula afirma que “ficou fácil citar o nome de Dona Marisa, porque ela morreu”. O ex-presidente explicou que Dona Marisa era quem cuidava das finanças pessoais do casal e que tinha total confiança na responsabilidade da esposa. “Não acredito que a Marisa tenha feito alguma coisa que possa resultar em ela não pagar alguém. Se ela não pagou, é porque alguém convenceu ela de que não precisava receber”.

Os indícios utilizados para relacionar Lula ao uso do sítio são registros de visita e a existência de bens pessoais do ex-presidente no sítio. O ex-presidente afirmou que frequentava o sítio desde 2011, com a própria família e com o pai do proprietário, Jacó Bittar, e que não era estranha existência de bens pessoais seu no local. "Se você invadir um quarto de hotel onde eu estou, você vai encontrar todos os pertences meus lá. É meu esse quarto?", indagou Lula. 

O interrogatório durou quase três horas, com perguntas baseadas na relação de Lula com o sítio e com os empresários das empreiteiras envolvidas na denúncia. Por diversas vezes, o ex-presidente foi interrompido pela juíza Gabriela Hardt, gerando a contestação da defesa, sob alegação de que “do tempo gasto do interrogatório, ele [Lula] só falou 50%”. Ao que Hardt respondeu, afirmando “eu vou permitir que ele conclua as respostas, mas se ele desviar do tema, eu vou interromper”.

Relação com empresários

Lula não negou ter se reunido com Marcelo Odebrecht ou Léo Pinheiro, afirmando ter sido, “talvez, o presidente que mais conversou com empresários” na história do Brasil.

A influência de Léo Pinheiro nas obras do sítio de Atibaia não pareceram estranhas ao ex-presidente, pois, nas palavras de Lula “não era uma grande empreiteira fazendo uma reforma”.

Lula também negou a existência de uma conta corrente do Partido dos Trabalhadores destinada à obtenção de propina e administrada por João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido. “Eu quero saber se encontraram dinheiro do Vaccari no exterior. Eu quero saber se encontraram conta do PT no exterior. Quando um cidadão vem aqui, acusado, fazer delação e dizer que é tudo caixa do PT, ele está mentindo”, disse.

Já ao final do depoimento, Lula disse entender-se como um “troféu que a Lava Jato precisava entregar”. Para o ex-presidente, seu maior esforço agora é “tentar desmentir as notícias contadas” a seu respeito. “Eu me sinto vítima do processo do triplex, do processo do sítio e do terreno do instituto. Então, realmente, meu esforço é não perder a tranquilidade e pedir a Deus que neste país se faça justiça”, afirmou Lula.

Edição: Diego Sartorato