O próximo governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha (MDB), foi eleito no último domingo (28) com 1,04 milhão de votos, o que representa 69,79% do total de votos válidos, contra 30,21% do adversário, o atual governador, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Estreante na gestão pública, Ibaneis é mais um dos atores que surfaram na onda da criminalização da política e se destacaram na corrida eleitoral como outsiders – "forasteiro", em inglês; termo utilizado para designar os perfis que vêm de fora do mundo político tradicional.
Apesar de se apresentar como novidade no terreno da política, buscou abrigo numa das legendas mais tradicionais do país, o MDB, a mesma de Michel Temer. Antes de ingressar na legenda, chegou a flertar com o PDT, mas teria desistido de uma eventual filiação em nome de mais estrutura partidária e tempo de TV, já vislumbrando o cargo de governador.
Entre outras coisas, Ibaneis foi bastante criticado por adversários ao longo da campanha por conta de sua associação com Tadeu Filipelli (MDB), ex-vice-governador do DF e também ex-assessor de Temer, que foi preso em 2017 por suspeita de participação em esquema de propina que envolveria obras do estádio Mané Garrincha, em Brasília.
O governador recém-eleito tem 47 anos e pertence a uma família de origem piauiense. Ele nasceu na capital federal e foi presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF) entre os anos de 2013 e 2015. No ano passado, teve as contas aprovadas com louvor pelo Conselho Federal da OAB, onde hoje atua na direção. Ele também é o corregedor-geral da entidade.
A força política conquistada ao longo da carreira o fez eleger seu sucessor na OAB-DF, Juliano Costa Couto. Para o próximo mandato, o advogado já articula o nome de Jacques Veloso, apontado como um dos favoritos na disputa.
Ibaneis é dono de um dos escritórios de advocacia de maior referência no DF. Aberto na década de 1990, o escritório atende cerca de 80 mil clientes em todo o Brasil e atua em áreas como Direito Administrativo, Direito Sindical e Direito Trabalhista. Antes de se formar advogado, o emedebista foi feirante, empacotador e comerciante.
Milionário
Ibaneis Rocha se sobressaiu no pleito como o candidato de maior patrimônio declarado junto à Justiça Eleitoral entre os 11 concorrentes ao Governo do Distrito Federal (GDF), com valor total de R$ 93,7 milhões.
O fato de Ibaneis não ser anteriormente conhecido pelo eleitorado brasiliense e ter conseguido vencer a corrida colocou no centro das atenções o peso de candidatos milionários em disputas eleitorais.
O emedebista surgiu no cenário do primeiro turno com apenas 2% das intenções de voto, mas cresceu ao longo da campanha e ultrapassou nomes tradicionais da política local. Ele acabou indo para a segunda fase da disputa com a maior vantagem – quase 30% – registrada entre todos os pares que concorreram no segundo turno das eleições deste ano. A campanha custou R$ 2,8 milhões, bancados, em sua maioria, pelo próprio advogado.
Ibaneis se elegeu pela coligação intitulada “Pra fazer a diferença”, que tem como vice o presidente do partido Avante no DF, Paco Britto, e aglutina outras legendas conservadoras – PP, PPL e o PSL, de Jair Bolsonaro.
Além da coligação de referência conservadora, o emedebista irá governar em um cenário local também marcado não só pelo conservadorismo político-ideológico, mas pela força econômica das elites. O DF é a unidade da Federação com a maior renda per capita nacional. Segundo dados do IBGE, em 2017 chegou a registrar um índice que corresponde ao dobro da média do país, com R$ 2.548 de renda por pessoa.
O Distrito Federal é também uma referência em termos de desigualdade. Um abismo marca a distância entre ricos e pobres, o que coloca a unidade federativa na posição de segunda pior do país no ranking nacional da desigualdade social, perdendo apenas para o Amazonas.
O dado é medido pelo Índice de Gini, que tem como referência questões como rendimentos trabalhistas, aluguéis, pensões alimentícias e previdência.
Bolsonaro
A relação com o partido do presidente de extrema direita recém-eleito foi um ponto de realce na campanha de Ibaneis. O emedebista pegou carona no conservadorismo do DF, que desde o início da campanha apontava para uma vitória local massiva do líder do PSL – Bolsonaro acabou vencendo em todas as zonas eleitorais locais, com 69,99% dos votos válidos.
Ibaneis não é o candidato a quem o então presidenciável havia declarado apoio – o general Paulo Chagas (PRP), um militar reformado, foi o nome apontado por Bolsonaro –, mas esteve entre aqueles que cortejaram o líder do PSL.
O emedebista afirma ter votado no militar no segundo turno e tem dito à imprensa que espera manter boa relação com ele, o que sinaliza a possibilidade de um governo local também conservador.
Em âmbito distrital, Ibaneis irá governar com maioria na Câmara Legislativa do DF (CLDF), onde tem o apoio declarado de 14 dos 24 deputados. Ele promete um “novo modelo” de relação com a CLDF e tem dito que irá priorizar temas como saúde, transporte e a criação de uma zona de livre comércio no DF.
O novo governador também sustenta que não pretende nomear para o Executivo nomes que estejam comprometidos judicialmente. A afirmação é interpretada como uma referência a Tadeu Filipelli, que, inclusive, candidatou-se a deputado federal pelo DF, mas não se elegeu.
Edição: Diego Sartorato