A Hydro Alunorte anunciou, nesta quarta-feira (3), que irá suspender integralmente suas atividades em Barcarena e Paragominas, no Pará. A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTP-PA) vê com preocupação o comunicado --para lideranças da comunidade quilombola de Gibrié de São Lourenço, esta seria mais uma tentativa de colocar a opinião pública contra as comunidades impactadas pelos crimes ambientais causados pela empresa.
Em fevereiro deste ano a Justiça do Pará determinou a redução em 50% das atividades industriais e o embargo da bacia de rejeitos DRS02 até que fosse apresentada licença de operação ambiental, passando a operar somente com a bacia DRS1.
A decisão da Justiça partiu após o transbordamento, depois de fortes chuvas, de lama vermelha de rejeitos químicos de bauxita de uma das bacias, contaminando rios e igarapés próximos de comunidades tradicionais. O caso ocorreu no dia 17 de fevereiro, mas, ao longo da investigação, verificou-se que havia lançamento excessivo de efluentes para o meio ambiente de forma irregular, por meio de uma tubulação clandestina.
Em nota, a empresa afirma que a DRS1 está próxima de atingir sua capacidade e atribui a interrupção das operações ao embargo, que a estaria impendido de utilizar o filtro prensa e a DRS2. A paralisação das atividades na refinaria em Barcarena atinge operações na mina de bauxita de Paragominas.
Cleber Resende, presidente da CTB no Pará, afirma que está em jogo o futuro dos trabalhadores e defende o fim do embargo desde que a empresa cumpra com as condicionantes socioambientais que atendam as comunidades.
“A própria Hydro dispõem de tecnologia para funcionar respeitando essas condicionantes sociais, ambientais e econômicas, sem ter esses impactos de fechamento de vários postos de trabalho”, afirma.
Em comunicado, o Ministério Público do Trabalho (MTP) Pará e Amapá afirma que acompanha desde o primeiro semestre a situação dos trabalhadores da Hydro. Um Inquérito Civil foi instaurado no órgão voltado a acompanhar as “demandas trabalhistas decorrentes da interrupção das atividades da empresa”, contudo o MPT afirma que é preciso aguardar os desdobramentos do anúncio “para assim tomar as providências cabíveis a fim de assegurar os direitos dos trabalhadores dispensados”.
Mário Santos, presidente da Associação Quilombola de Gibrié de São Lourenço, avalia que o anuncio é uma chantagem para que o embargo seja suspenso e uma tentativa de colocar a opinião pública contra as comunidades de Barcarena.
“Não imaginas o quanto nós estamos sendo atacados publicamente, nas redes sociais a respeito disso, se nós já vínhamos sendo atacados, massacrados, agora, perante a opinião pública, o povo está dizendo assim: 'está aí o que queriam, o embargo da Hydro, agora vai parar e vai embora’. Eu te pergunto: nós fomos responsáveis pelo embargo? ”, diz, indignado.
Para compensar os danos ambientas e após muitas negociações, a Hydro Alunorte aceitou assinar Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que visa garantir a realização de ações e o cumprimento de condicionantes socioambientais.
Edição: Diego Sartorato