Saúde

ARTIGO | Prevenção ao Suicídio: Muito além de uma fita amarela

Setembro Amarelo sensibiliza, mas Emenda 95 impede investimentos em políticas que reduzam casos de suicídio

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“Desafio para os anos que se seguem compreende também nos fazer representar por quem investe na manutenção da vida”, diz a psicóloga
“Desafio para os anos que se seguem compreende também nos fazer representar por quem investe na manutenção da vida”, diz a psicóloga - Foto: TCE Tocantins

A campanha Setembro Amarelo foi instituída em 2003 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como mês internacional de prevenção do suicídio. Ela faz parte do calendário de ações que buscam qualificar as redes de cuidado à saúde para lidarem com o tema, bem como sensibilizar a população para identificar e ajudar pessoas que tendam a atentar contra a própria vida.

No Brasil, essa campanha foi iniciada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade filantrópica que oferece apoio emocional a partir do número telefônico 188, pelo qual se pode acessar voluntários que se disponibilizam a conversar com pessoas em profundo sofrimento.

Mas, ainda em 2006, o Ministério da Saúde (MS), por meio da portaria 1.876 que instituiu as Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio, passou a investir em notificações que ajudaram a conhecer melhor o perfil desse público, disparar ações educativas para profissionais e para o conjunto da sociedade.

11 mil mortes por ano

Em decorrência disso, em 2016 foi lançada a Agenda Estratégica para Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil. O documento traz um panorama nacional de 11 mil mortes autoprovocadas por ano, sendo a quarta maior causa de morte na faixa etária entre 15 e 29 anos.

Em 2016, a OMS divulgou um relatório estimando que cerca de 90% dos indivíduos que puseram fim à própria vida sofriam de algum transtorno mental grave. Desse total, 60% tinham depressão.

Associado a isso, a Universidade de São Paulo (USP) divulgou estudo que, realizando exame toxicológico em 1,7 mil casos, apontou para a presença de álcool no sangue de 30% das vítimas, porcentagem que subia exponencialmente para 61% no recorte etário entre 25 e 44 anos.

Caps reduz incidência

Para cuidar desses tipos de sofrimento mental o Sistema Único de Saúde (SUS) conta com os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e os Caps AD (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas), serviços especializados em saúde mental que dispõem de equipes compostas por diversas categorias profissionais para realizar atendimentos individuais, atividades em grupo no interior desses dispositivos e no território, dentre outras ações.

A agenda citada aponta que em cidades onde esses serviços existem os índices de suicídio reduziram 14%. Por isso, junto com investimentos em educação, essa taxa indica a necessidade de expansão dos serviços Caps em todo o território nacional.

Emenda 95

Mas, se por um lado, o Setembro Amarelo tem sido bem sucedido no sentido de provocar alguma fissura no individualismo, sensibilizando para os sinais de desesperança de quem está deprimido, e estimulando o suporte familiar e social; por outro, o Ministério da Saúde promete o que não pode cumprir. Afinal, a Emenda Constitucional 95, assinada pelo governo golpista do Michel Temer em 2016, impede o financiamento em políticas sociais, dentre elas que a saúde cresça junto às demandas da população.

Por isso, se solidarizar a essa campanha vai muito além de usar fitinha amarela, consiste em defender políticas públicas capazes de dar esperança ao povo. O desafio para os anos que se seguem compreende também nos fazer representar por quem investe efetivamente na manutenção da vida.

 

* Sarah Fonseca é coordenadora técnica do Caps AD III Antônio Carlos Mussum e mestranda em Atenção Psicossocial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJR/IPUB).

Edição: Cecília Figueiredo