Um trabalho de cerca de 8 anos, realizado pela Professora Dra. Larissa Bombardi, da Universidade de São Paulo (USP), sobre o consumo de agrotóxicos no Brasil, resultou no Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia. Os dados contidos no material, levantados de 2007 a 2014, revelam que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e o Paraná se destaca nas primeiras posições em diferentes categorias, sendo o Estado com maior número de intoxicações e suicídios causados por agrotóxicos direta ou indiretamente.
Ao todo no Brasil, segundo dados do Atlas, foram 9000 pessoas que cometeram suicídio devido ao uso de agrotóxicos, já que a utilização continuada do veneno na produção agrícola aumenta as chances de desenvolvimento de quadro depressivo e, com o avanço da doença, cometerem a própria morte. Por ano, foram 1186 mortes. No Paraná, dos 3700 casos de intoxicação, foram 1633 causados por suicídios, seguido pelo estado de Pernambuco que aparece em segundo lugar.
O tema foi debatido na Mesa "Consequências dos Agrotóxicos à Saúde Humana e à Natureza", durante a 17º Jornada da Agroecologia, em Curitiba (PR). Larissa destacou que os dados foram colhidos a partir de diferentes fontes, porém, há muito ainda a ser aprofundado. “Podemos afirmar que muitos casos não são divulgados, como, por exemplo, os canceres e má formação fetal, que acabam não sendo contabilizados como causados pelo uso de agrotóxicos”. Ela explica que o Paraná surge nas primeiras colocações por ser um Estado de grande produção agrícola, mas também por existir um trabalho significativo de agentes como Ministério Público, Saúde Pública e do Observatório do Uso de Agrotóxicos, consequências para saúde humana e ambiental do Paraná, que fazem estes dados aparecerem a partir de denúncias.
Também presente na mesa de debates, o Professor Paulo Perna, do Departamento de Enfermagem da UFPR e também coordenador do Observatório, explica que a ligação da causa de suicídio ao uso de agrotóxicos é objeto de estudos. “Temos algumas explicações, pois o efeito que alguns agrotóxicos produzem nas pessoas, o contato com algumas destas substâncias, provocam alterações psicológicas graves, que levam os indivíduos ao impulso de acabar com a vida. Isso aparece bastante, no Paraná, entre os jovens e adolescentes ocupados no processos de plantio com uso intenso de agrotóxicos”.
O Observatório chegou a levar para o Governo do Estado do Paraná duas propostas para diminuir o consumo de agrotóxicos, porém pouco se fez a este respeito por parte do poder público.
Consumo de agrotóxicos cresce 135% no Brasil
O Brasil, segundo os dados do Atlas, consome 20% de todo agrotóxico comercializado mundialmente. O consumo passou de 170.000 toneladas no ano 2000 para 500.000 toneladas em 2014, sendo 135% de aumento. Para Bombardi, “as causas estão vinculadas a lógica da economia brasileira mundializada. No lugar de privilegiarmos a produção de alimentos, estamos privilegiando os produtos para exportação. Diminuímos as áreas de arroz, feijão e mandioca e aumentamos cana, soja e milho, que são em grande parte transgênicas”.
“A espinha dorsal de toda a questão é a manutenção da propriedade privada da terra. O proprietário de terra tem um poder incomensurável no Brasil. A fotografia disso é como o nosso Congresso está composto e estamos sujeitos aos interesses destes proprietários e não ao bem-estar comum”, conclui a pesquisadora.
Edição: Laís Melo