A voz do povo é a voz do povo, e somente ele pode expressá-la com legitimidade. Essa é a determinação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que ao longo de mais de 30 anos de atuação política em defesa da reforma agrária, tem construído experiências de comunicação que buscam dar visibilidade aos temas relacionados à realidade do campo brasileiro.
Durante a Marcha Nacional Lula Livre, realizada entre os dias 10 e 15 de agosto no Distrito Federal, a rádio Brasil de Fato se somou ao trabalho da rádio Brasil em Movimento, realizada pelo setor de comunicação do MST, criando uma rádio itinerante que cumpre o papel de integrar as três colunas marchantes. A locução é dividida entre dois estúdios: São Paulo e Brasília, com programas informativos a cada meia hora, das 8h às 14h. Pedro Neto, dirigente sem terra do Ceará, é o responsável por coordenar os trabalhos da rádio na Coluna Ligas Camponesas, que reúne os nove estados da região nordeste, e avalia positivamente a parceria.
“Está sendo uma experiência muito positiva. Na verdade, a experiência de rádio no MST vem desde o surgimento do MST. O projeto popular que nós viemos construindo passa pela questão da comunicação. Construir unidades, construir ferramentas de comunicação que possam dialogar com as necessidades conjunturais e da classe trabalhadora é muito importante. Por isso, quando a rádio Brasil em Movimento e a rádio Brasil de Fato, quando fazem essas transmissões em conjunto demonstram também a unidade e esse objetivo comum que é construir um projeto de comunicação que seja parte do projeto popular que nós demandamos”.
A experiência é repetida 13 anos depois da estreia da rádio Brasil em Movimento, surgida durante a última grande marcha do MST em 2005, quando cerca de 12 mil pessoas marcharam em fileira única de Goiânia a Brasília. É o que conta Camila Bonassa, militante sem terra, e uma das responsáveis pela iniciativa.
“Era muita gente e nós precisávamos pensar uma forma de se comunicar com todos esses marchantes. E foi aí que a gente pensou que só um caminhão de som não daria conta de toda a coluna e de todas as fileiras. Então a gente trabalhou a rádio itinerante com a rádio FM. A gente montou uma estrutura de transmissão em cima do caminhão de som e os marchantes tinham um ‘radinho’ onde eles iam ouvindo toda a programação da marcha, todas as informações, e dessa forma a gente também conseguia dialogar com quem passava pelas rodovias, pelas cidades onde a marcha passava”, conta.
Embora satisfeito com os resultados, Neto destaca o grande desafio de construir a rádio itinerante, em condições adversas. “A rádio itinerante tem que entrar na dinâmica do acampamento. Então as questões estruturais são um desafio. Precisamos garantir uma estrutura que dê conta de cada percurso da marcha e, além disso, chegar no acampamento e ter uma estrutura que atenda à demanda da rádio. Outro desafio é que a rádio esteja ligada à organicidade do acampamento. A rádio itinerante, seja na marcha ou no acampamento, cumpre uma tarefa também organizativa, para ajudar as pessoas a se organizarem, as equipes de trabalho a funcionarem. Então ela cumpre um papel muito importante”.
Além do objetivo de promover a comunicação entre os marchantes, Bonassa afirma que a construção da rádio e a rotatividade dos colaboradores, termina por contribuir para a formação de novas experiências nos acampamentos e assentamentos da reforma agrária.
“Cada vez que a gente faz a rádio em alguma atividade, nós percebemos que novas pessoas chagam para contribuir. Não é uma equipe fixa. Tem gente que chega querendo contribuir, querendo saber como se faz para poder fazer no seu próprio assentamento”.
A rádio itinerante é transmitida pelo site brasildefato.com.br, no portal do MST (mst.org.br) ou ainda pelo aplicativo da rádio Brasil de Fato, disponível para celulares Android. A Marcha Nacional Lula Livre é realizada pelo MST e Via Campesina e reúne cerca de cinco mil militantes, em defesa da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde o dia 7 de abril.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira