Simone Oliveira é oficial de justiça na cidade de São Paulo e não militava em nenhum movimento popular. O processo do golpe, no entanto, com a destituição da ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016, fez com que ela sentisse a necessidade de se articular para fazer frente a situação política do país. Simone reuniu um grupo no seu local de trabalho e começou a se engajar no Congresso do Povo Brasileiro.
Ela conheceu a iniciativa quando participou de passeatas e mobilizações contra o golpe. A partir desse momento começou a participar do comitê do centro do Congresso do Povo. “Para mim está sendo um processo muito rico. Nunca tinha entrado numa ocupação e nosso principal ponto de reunião é na ocupação da Marconi. Foi muito interessante conhecer as pessoas e o movimento dos sem-teto”, conta.
A participação nesse processo foi importante para tirar Simone do isolamento, que acabou conhecendo outras pessoas e movimentos com os quais não tinha contato antes. Isso fez com ela se sentisse mais fortalecida para fazer frente ao atual momento de crise política e econômica pelo qual passa o país.
“É muito rico estar com pessoas que eu não conhecia e ver os anseios e as angústias de cada um nesse período. É uma forma de passar por esse momento de crise em que está todo mundo pensando em como vamos sair disso. Quando você vê que tem outras pessoas pensando nisso também, você percebe que não está sozinha. Essa mobilização é muito importante porque independente do governo que ganhe as eleições é preciso ter o povo organizado para reivindicar seus direitos”, acredita.
Simone é uma entre centenas de pessoas que participaram neste sábado (11/8) da etapa municipal de São Paulo do Congresso do Povo Brasileiro, iniciativa da Frente Brasil Popular que surgiu no final de 2017. Antes dessa etapa foram realizados encontros em todas as regiões da cidade.
Objetivos
Para o advogado e dirigente da Central de Movimentos Populares (CMP), Benedito Roberto Barbosa, o Dito, o Congresso do Povo está cumprindo dois objetivos: identificar os responsáveis pela crise e discutir as saídas programáticas para a situação do país.
“Não é a direção, a coordenação dos movimentos e das entidades que que irá identificar a situação que estamos vivendo, mas é a partir da base, da discussão e do processo de formação política que vamos descobrir coletivamente a saída para toda essa situação. Ou seja, vamos construir uma solução juntos a partir da base”, conta Dito.
De acordo com Gabriela Guedes, do Levante Popular da Juventude, o Congresso do Povo é uma ferramenta para dialogar com o povo brasileiro visando fortalecer uma saída popular para a crise do país.
“Para conseguirmos furar o cerco do golpe o povo precisa de muita força. O Congresso do Povo surge como uma ferramenta para que a gente consiga dialogar com o povo, questionando os problemas do país e tentar pensar em saídas em conjunto com o povo brasileiro, porque na nossa avaliação, se nós nos isolarmos, com certeza seremos derrotados. Por isso a importância desta ferramenta unitária que reúne grande parte das organizações democráticas e populares do país”, afirmou Gabriela.
Israel Divino Marques conta que se fortaleceu como militante do movimento de moradia a partir das iniciativas do comitê Leste 1 do Congresso do Povo Brasileiro. Atualmente ele faz parte da coordenação da CMP e conta que o encontro com movimentos populares de outras áreas de atuação é importante para fortalecer as lutas sociais.
“Neste período ao lutar por moradia a gente foi entendendo que para ter acesso à habitação é preciso também acessar a cidade como espaço mais inclusivo, acolhedor, humanizado, e na luta por moradia a gente vai entendendo que é preciso ampliar a luta pelo direito a viver com dignidade”, conta.
“Comecei a militar a partir da Leste 1 por conta da necessidade de alcançar e lutar pelo acesso a moradia como um direito. Entrando no grupo de base eu aceitei o convite de ajudar na coordenação do grupo, e ao assumir a coordenação tive a possibilidade de fazer formações, seminários, conhecer mais a história dos bairros da Leste 1. A partir daí fui eleito para a coordenação executiva da Leste 1, que agrega os bairros de São Matheus, Sapopemba, Arthur Alvim e cidade Tiradentes”, explica Israel.
Encontro Municipal
Diversas lideranças e movimentos popualres estiveram presentes no encontro. A mesa de abertura do evento contou com a presença da presidenta da União da Juventude Socialista (UJS), Carina Vitral, o candidato ao governo de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Marinho e dirigente da CMP, Benedito Roberto Barbosa, o Dito.
O vereador e candidato ao Senado, Eduardo Suplicy (PT), também esteve presente ao encontro que reuniu diversas organizações que compõem a Frente Brasil Popular. Os presentes se reuniram após a mesa de abertura em grupos de discussão para debaterem um documento com os acúmulos dos comitês regionais.
Ao final do encontro foi aprovado um documento a partir do debate, que será apresentado a candidatos e candidatas com plataformas políticas do Congresso do Povo Brasileiro.
Edição: Luiz Felipe Albuquerque