Cerca de 5 mil pessoas participaram dos três atos de lançamento da Marcha Nacional Lula Livre, nesta sexta-feira (10) em cidades do Goiás e Distrito Federal. A Marcha é uma iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina, organização internacional que articula comunidades camponesas em todo o mundo. Serão 50 quilômetros a serem percorridos a pé em três colunas, que partem de diferentes pontos de Goiás rumo a Brasília (DF), onde as fileiras se somam à mobilização convocada para registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Lula é preso político há mais de 120 dias, na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR). Neste sábado as fileiras devem percorrer 15 Km, em média, pelas estradas, a partir das 6h.
Com um grande ato político e cultural que reuniu quase 2 mil pessoas na Praça da Prefeitura, em Formosa (GO) camponeses de nove estados do Nordeste - reunidos na Coluna Ligas Camponesas - inauguraram a caminhada.
“Quem marcha nunca esquece o que vê. Do pó das marchas sobe um letreiro escrito com os pés, que os governantes e os latifundiários sabem reconhecer: lá vem a sede por justiça!”, afirmaram integrantes da Juventude do MST em jogral durante o ato de abertura da marcha.
A multidão também ouviu em silêncio respeitoso uma gravação de um trecho do discurso de Lula em São Bernardo do Campo (SP) em 7 de abril de 2018, o último antes de apresentar-se à Polícia Federal.
“Lula disse: ‘eu vou andar pelas pernas de vocês, e falar pelas vozes de vocês’. É isso o que está acontecendo aqui”, afirmou o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que participou do ato em Formosa. “Se o Brasil nunca precisou tanto do Lula como agora, o Lula nunca precisou tanto de vocês como hoje. É o Brasil inteiro que marcha a Brasília a partir de hoje”, completou.
Marinete Moreira, de 45 anos, é moradora de Formosa e foi à praça acompanhar a mobilização. Ela conta que se tornou uma empresária bem sucedida da área de cosméticos durante os governos petistas, mas que, após o golpe, passou por dificuldades e teve de fechar sua empresa. “Durante os governos do Lula e da Dilma, eu investi, cresci, até viajei à Europa, mas hoje, vou fechar. Tudo piorou depois do golpe. Quando a economia desanda, as pessoas começam a ter de escolher entre a estética, a ‘pintura’, e o arroz e feijão. Então senti muito cedo o impacto do golpe e do empobrecimento das pessoas. Hoje em dia a gente vê muito pedinte na rua, a violência aumentou”, relata.
O produtor rural Jair Almeida da Silva, de 49 anos, veio de seu assentamento em Camamum, na Bahia, para participar da marcha porque também percebeu a volta da pobreza se acercando. “Eu trabalhava para os outros, mas graças à reforma agrária, ao assentamento conquistado nos tempos do Lula, hoje produzo na minha própria terra. Produzimos cacau, cupuaçu, banana. Por isso temos de defender o Lula, ele está sendo perseguido pelo que nós conquistamos”, avalia.
Coluna Tereza de Benguela
As delegações da Amazônia e do centro-oeste do Brasil se reúnem em Engenho das Lages (DF) e deram o nome à sua coluna de Tereza de Benguela, liderança quilombola que atuou contra o sistema escravocrata na região do atual estado do Mato Grosso.
O ato político de largada da Marcha Nacional Lula Livre nessa coluna foi marcado por músicas e místicas a respeito da agricultura familiar e da soberania popular na luta pela terra. Também estiveram presentes comunidades indígenas e quilombolas, além de movimentos urbanos de rua.
"Todo mundo tem direito à terra, mas nós estamos pelejando para conseguir um direito básico. Nessa Marcha, os pobres se reúnem para curar suas feridas juntos, porque o rico não cura ferida de ninguém", afirma Liomar Ferreira, 52, assentado em Formosa (GO).
Luiz Roberto, da direção estadual do MST em Rondônia, confirma que a luta dos próximos dias é pela retomada da democracia e contra as ilegalidades jurídicas e legislativas que permeiam o país. O dirigente afirma que exigir Lula Livre é impedir a ampliação do golpe que atua contra a classe trabalhadora.
"Nós queremos construir um Brasil diferente e por isso marchamos por um projeto popular para o país. A classe trabalhadora é a única capaz de mudar essa realidade. A reforma que nós queremos só pode ser popular", finaliza.
Thainá Regina tem 15 anos e vive há 11 anos no assentamento Che Guevara, no Mato Grosso do Sul. Ela destaca que o sofrimento e a violência contra a população do campo escancaram a importância da luta pela reforma agrária popular.
"O que me fez apaixonar pelo MST e por sua luta foi ver as injustiças no campo. Com a conjuntura que vivemos hoje, na mídia, na política e na sociedade, estar aqui é mostrar minha luta pelo meu povo e ir contra aquilo que eu vejo todos os dias, na sociedade, na política e na mídia", pontua.
Coluna Prestes
“Marchamos por Lula Livre e também para construir um projeto popular para o Brasil e retomar a dignidade para o povo”. Com essa fala do Setor de Cultura do MST, em meio a músicas populares de resistência, começou o ato da Coluna Prestes, que iniciou sua mobilização nesta sexta-feira na cidade de Luziânia (GO).
Militantes sem-terra do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, além de delegações da Marcha das Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Levante Popular da Juventude estão reunidos nesta coluna.
Marinalda da Aparecida Silva, do PT em Luziânia, saudou os marchantes e relembrou a Marcha Popular pelo Brasil, de 1997, reforçando que marchar é um importante instrumento de mobilização popular. “Nós agora estamos lutando por uma causa muito justa, que é a liberdade do nosso companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, o melhor presidente que este país já teve.”
Com a palavra de ordem "Lula livre, Lula inocente", a Coluna Prestes faz o lançamento da marcha com muita animação e música camponesa. Os militantes lembraram a luta da Coluna Prestes, comandada por Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, um líder tenentista que organizou uma grande marcha entre 1924 e 1927 contra o coronelismo que andou 25 mil km pelo interior do Brasil.
Além de exigir a liberdade imediata de Lula, a coluna reforçou que o MST marcha pela reforma agrária, igualdade de gênero e contra as retirada de direitos protagonizada por Temer.
Ênio Bohnenberger, da Direção Nacional do MST por Minas Gerais, afirmou que o principal motivo da Marcha é a libertação de Lula, que se une à luta histórica da classe trabalhadora. “Nós somos diferentes daqueles coxinhas que aparecem a cada 30 anos para defender a direita, o golpe. Nós estamos nas ruas todos os dias para defender os direitos da classe trabalhadora e a soberania do povo brasileiro. Nós hoje caminhamos, porque precisamos derrubar um golpe, que foi dado contra a democracia”, afirmou.
Com críticas ao papel que a mídia empresarial desempenha no golpe, o dirigente mostrou o posicionamento do MST. “No Brasil que nós queremos não vamos ouvir da Rede Globo. O Brasil que nós queremos nós mesmos que vamos construir, lutando, em marcha. Estamos fazendo o que sempre fizemos, lutar todo dia, incansavelmente”, disse.
Acompanhe a cobertura especial do Brasil de Fato
Edição: Beatriz Pasqualino