A situação é inédita: uma chapa tripla nas eleições presidenciais. O ineditismo se dá justamente pela excentricidade da política pré-eleitoral, estando o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto preso há quatro meses, proibido de exercer seus direitos políticos.
O arranjo passa pela indicação de Fernando Haddad (PT) como candidato a vice na chapa liderada pelo ex-presidente Lula em um primeiro momento. Assim que analisado e homologado o registro da candidatura, Manuela D’Ávila (PCdoB) assume o posto de vice, ao lado de quem resultar ser o candidato petista --Lula ou Haddad-- a figurar nas urnas no dia 7 de outubro.
Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (7) na sede do PCdoB em São Paulo, a ex-pré-candidata comunista explicou o acordo que resultou na coligação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para as eleições presidenciais.
“Este é um acordo em que nós do PCdoB ocuparemos a vaga de vice em qualquer dos cenários. Eu torço para que em primeiro de janeiro a justiça decida que eu tomarei posse como vice-presidente da República com Luiz Inácio Lula da Silva na presidência, mas eu e o Haddad estamos prontos para vencer a eleição em qualquer cenário. Então a decisão do PCdoB é a decisão de quem acredita que nós ganharemos a eleição e conseguiremos juntos retirar o Brasil da crise que afeta de maneira tão dramática o povo brasileiro”.
O ex-prefeito de São Paulo, agora oficializado candidato à vice-presidente, destacou o desprendimento dos dois em relação ao poder, em benefício de um projeto de país, que busque reverter os efeitos do golpe de estado de 2016.
“Tem muitos valores que nos unem, mas muitos mesmo. Mas tem um que é importante frisar nesse momento. Nós dois somos pessoas desprendidas em proveito de um projeto em que nós confiamos. Porque eu digo isso? Porque da mesma maneira que a Manuela disse: 'Eu não preciso estar na chapa em proveito de um projeto para transformar, para resgatar o Brasil', eu também não preciso estar na chapa para isso acontecer. Eu estou representando o presidente Lula como candidato a vice-presidente, tive a honrosa tarefa de representá-lo nessa circunstância, e assim que ele tiver sua candidatura homologada, a gente vai estender o tapete vermelho para que a Manuela ocupe o meu lugar. E vai ser um dia de glória vê-la junto ao presidente, subir a rampa do Planalto e governar o Brasil”.
Unidade
Manuela D’Ávila desempenhou um papel decisivo nas tratativas com outros partidos do campo democrático popular no sentido de construir uma candidatura que unificasse esse setor. Na tarde desta terça-feira, ela explicou que a proposta de unidade deveria passar pelo debate sobre as reais chances de vencer as eleições, consideradas decisivas para o futuro próximo do país.
“Eu sempre falei, junto com a ideia de que era necessário a construção e o esforço por uma saída unitário do nosso campo, que também era necessário que nós compreendêssemos que não temos o direito de perder a eleição. Essa é a chapa que vai vencer a eleição. Nós vamos construir juntos essa vitória. E essa é a razão do desfecho que nós construímos. O Brasil vive uma crise severa, o impacto da crise nas mulheres e homens brasileiros é muito grande para que nós nos déssemos o luxo de mantermos a minha candidatura e não reunirmos, não aglutinarmos mais força para vencer as eleições. Nós achamos que juntos temos mais força, mais condições de vencer”.
Manuela fez questão de desconstruir o argumento de que ocupar o posto de vice seria aceitar ser reduzida a um papel menor dentro do projeto.
“Quando alguém do meu próprio estado foi indicada a vice do Alckmin, foi motivo de festa por ser uma mulher na chapa, mesmo ele estando num determinado lugar bem abaixo nas pesquisas. Daí quando uma mulher é indicada a vice do primeiro colocado nas pesquisas, eles dizem que é machismo. Na verdade, o machismo é deles evidenciando a condição de não respeito às minhas decisões e é também medo de ter uma mulher na vice-presidência da República, que é o que vai acontecer”.
D’Ávila ainda brincou com a possibilidade de ser ela a responsável pelo "desalojamento" do presidente Michel Temer (MDB) do Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-presidência da República, e onde a família do presidente reside mesmo depois de ter se tornado presidente, a partir do golpe.
“Aliás, eu me dei conta hoje de manhã, e fiquei muito feliz, que das tarefas honrosas que me tocarão no próximo ciclo, uma delas é que eu vou morar no Palácio do Jaburu. Então na vida real, quem vai tirar o Temer do Jaburu sou eu, porque a próxima moradora de lá serei eu”, concluiu, sob aplausos.
Sobre a participação do ex-presidente Lula nos debates e outras atividades de campanha, Haddad afirmou que, embora esteja preparado para assumir a tarefa, o PT insistirá no direito legítimo do ex-mandatário realizar seus atos de campanha, como é determinado em lei.
“Para mim, a legislação é muito clara. O artigo 16A do código eleitoral diz o seguinte: nós vamos apresentar no dia 15 o protocolo para registrar a candidatura do Lula. O que diz o artigo 16A? Que mesmo uma candidatura sub judice, se vier a ser contestada por algum partido ou pelo Ministério Público, essa candidatura mantém todas as prerrogativas e direitos de uma candidatura que não esteja sendo contestada. E é óbvio que tem que ser assim, senão todo mundo ia entrar com uma ação para bloquear a campanha. Então mesmo sub judice, ela mantém as prerrogativas. A partir do dia 15, o Tribunal Superior eleitoral passa a ser a instância correta para dirimir dúvidas como essa”.
O registro da candidatura do ex-presidente Lula será protocolado junto à Justiça Eleitoral no dia 15 de agosto, data limite para a inscrição.
Edição: Diego Sartorato