Os impactos do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana e o meio ambiente foi o tema de um debate realizado nesta sexta-feira (3) no Armazém do Campo, em São Paulo (SP). A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida realizou uma roda de conversa no local, como parte da programação de comemoração de dois anos da loja -- referência para produtos orgânicos e agroecológicos na capital paulista.
Nos últimos dez anos, o número de agricultores brasileiros que usam agrotóxicos cresceu 20,4%. O aumento da aplicação de venenos foi confirmado por dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada no contexto em que o país discute a flexibilização do uso dos venenos.
Luz Gonzales, assessora da Secretaria de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), acredita que a atividade é um desses espaços para o diálogo com a sociedade.
“É uma articulação que está cada vez se ampliando mais porque os agrotóxicos estão cada vez mais em pauta”, pontua Gonzales.
Ela pontua que as organizações têm se esforçado em simplificar o debate e atrair a população para a discussão. “O agronegócio tenta trazer um discurso bastante superficial e a gente tenta desmentir esses mitos. É um tema difícil de entender tem muitos fatores, mas isso tem que ser facilitado a partir da preocupação com alimentação e a saúde”, pontua.
Glenn Makuta, da Slow Food Brasil, ressaltou a importância do formato de conversas com a população. Ele pontua que a disseminação de informações corretas sobre as substâncias são essenciais para processo de criação de novos modelos de produção e consumo.
"É uma disputa de narrativas muito acirrada e muito desigual. Enquanto o agronegócio tem toda mídia e várias convenções a seu favor, a gente está muito na guerrilha, educando as pessoas de outras formas possíveis de se alimentar", ponderou.
O objetivo da roda, segundo Makuta, é quebrar mitos que foram criados em torno da alimentação saudável e orgânica.
“Se a gente for no supermercado comprar orgânico, realmente vai ser uma coisa cara. A gente precisa também uma reeducação para que a gente aprenda a consumir direto do produtor e lutar por políticas públicas porque o alimento contaminado”, comenta o ativista.
“Hoje em dia, a produção com agrotóxicos só é viável porque tem uma série de isenções fiscais e é estimulada pelo estado. Já o orgânico é onerado, precisa ter certificação, não tem linhas de financiamentos, não tem políticas públicas consolidadas para que isso se torne acessível, de fato, para as pessoas”, complementa.
A alta tributação dos produtos orgânicos é um dos temas contidos na Política Nacional de Redução de Agrotóxicos. O projeto, criado para pautar a diminuição do consumo de veneno no país, tramita na Câmara dos Deputados e é apoiado pelas entidades que compõem a campanha.
Em contrapartida, correndo em ritmo acelerado no Congresso Nacional e apoiado pela bancada ruralista, o Projeto de Lei (PL) nº 6299 de 2002, apelidado de Pacote do Veneno, propõe flexibilizar o processo de liberação de novos agrotóxicos no Brasil ou de seu uso em novos tipos de plantio.
O relatório “Você não quer mais respirar veneno”, elaborado pela organização Human Rights Watch (HRW), mostrou que o uso regular de veneno em plantações próximas a áreas rurais está diretamente relacionado a casos de intoxicações agudas, incluindo em crianças, comunidades indígenas e quilombolas.
Edição: Diego Sartorato