Realizado com dois anos de atraso, o Censo Agropecuário de 2017, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (26), foi redesenhado para se adaptar a um corte orçamentário.
O instituto recebeu R$ 785 milhões, menos da metade do que chegou a ser orçado, para realizar a pesquisa. A previsão era de uma verba de R$ 1,6 bilhão. O número de recenseadores também diminuiu e, dos 80 mil previstos, foram contratados 26 mil.
Por isso, o novo modelo do Censo Agropecuário, cujos resultados preliminares foram divulgados nesta quinta-feira (26), traz informações menos detalhadas — o que marcou o censo anterior, de 2006. O questionário, por exemplo, não destrinchou como é feita a aplicação de agrotóxicos. As perguntas sobre a utilização de veneno se restringiram a se o produtor utiliza ou não as substâncias.
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O destino dado a produção vegetal — se ela é vendida diretamente no comércio, por exemplo — é outro dado que não está detalhado na pesquisa.
Além disso, o instituto mudou faixas de agrupamento etário e do tamanho das propriedades, o que não permite a total comparação das séries históricas.
De acordo com o pesquisador Antônio Carlos Florido, responsável pela gerência técnica do Censo Agropecuário, as mudanças metodológicas ocorreram por conta da nova verba.
"Tivemos que reduzir o tamanho da pesquisa em termos de variáveis a serem pesquisadas, para agilizar o tempo de coletas em cada estabelecimento, de modo que o mesmo recenseador conseguisse fazer mais de dois questionários por dia", disse.
"Na proposta orçamentária para 2017, não tinha nenhum recurso para o Censo. O que foi conseguido é uma emenda parlamentar que disponibilizou um recurso para o IBGE fazer o Censo [Agropecuário]. Tivemos que adaptar o projeto ao recurso que foi disponibilizado."
O coordenador chama as mudanças de remodelação e alega que elas não implicam em perda na qualidade das informações. Ele também afirma que o órgão seguiu recomendações internacionais para a elaboração do levantamento, para o estudo permanecer comparável entre países e para que ele consiga atender a demandas internas. Mas Florido pediu cautela com as comparações entre as pesquisas.
"É uma divulgação preliminar. Praticamente nós coletamos a informação, tiramos aqueles erros grosseiros do questionário e estamos divulgando algo preliminarmente", diz o pesquisador. "Há alteração de datas, período de referência em relação a todos os outros censos agropecuários."
Ele também pondera que mudanças metodológicas também pedem cuidado na análise dos dados. "Tem mudanças metodológicas que têm que ser lidas e compreendidas para não se analisar coisas diferentes", pontua Florido. "Por exemplo, a diminuição do número de estabelecimentos, em alguns estados, pode ter sido ocasionada por alguma mudança metodológica."
Repúdio
Na época em que foi anunciada a redução do Censo Agropecuário, mais de 70 entidades como a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), a Rede de Estudos Rurais, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), se posicionaram contra as mudanças.
A AGB pontuou que os cortes atingem “a possibilidade de construção de conhecimento sobre o agrário e o agrícola do país”.
Em entrevista ao Brasil de Fato em março de 2017, o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (Assibge), Cassius de Brito, afirmou que a modificação prejudicaria séries históricas de dados. “O pessoal está chamando de ‘censo cadastro’”, diz o sindicalista. “Reduziu o questionário, o número de recenseadores a serem contratados. Cortou muita coisa.”
Segundo outras fontes do sindicato, a versão do questionário de 2017 teria dez páginas e, em 2006, tinha 24.
Edição: Tayguara Ribeiro