Passados 28 anos desde sua fundação como fórum de partidos políticos de esquerda, o momento é complicado. Como diz a declaração final do Foro, a América Latina e o Caribe se encontram em meio a uma multifacetária ofensiva reacionária, com uma arremetida do imperialismo estadunidense que, na medida em que está perdendo a hegemonia do um mundo unipolar que transita ao multipolarismo, sempre ameaçador, se monta sobre os arredores e limitações das forças transformadoras e processos de mudança, amplificando-os.
O documento rechaça a ideia de um fim do ciclo progressista. Objetivamente, a esquerda articulada no Foro de São Paulo conta com menos governos do que contava nos primeiros anos do século 21, e durante toda a década passada. Mas não só está melhor que no final do século 20, como a acumulação política e social em muitos processos é maior. O exemplo da Colômbia é claro. Apesar da vitória da direita e a chegada do uribismo ao governo, a esquerda tem uma força como nunca antes, expressada nos mais de 8 milhões de votos em Gustavo Petro, que precisa, isso sim, ser canalizada de maneira adequada. Inclusive, é paradigmático o exemplo de Honduras. Podemos afirmar, sem dúvida, que a esquerda e a mobilização popular são hoje mais fortes que em 2009 antes do golpe de Estado contra Mel Zelaya [Manuel], participante do encontro de Havana.
Em todo caso, não se pode menosprezar a tentativa de restauração conservadora, ainda que também seja certo que a direita não está conseguindo consolidar seu projeto em nenhum dos países de Nossa América. Não é necessário mais que olhar para a Argentina onde há apenas alguns meses parecia garantido um segundo mandato de Macri em 2019, e hoje em dia o governo do PRO cambaleia em meio a incertezas. Mas esta contraofensiva neoliberal também soma posições, como no caso do Equador, onde a direita não precisou ganhar uma eleição como na Argentina, dar um golpe como em Honduras, ou executar uma operação parlamentário-judicial como no Paraguai e no Brasil, para chegar ao governo, que lhe foi entregue em bandeja de prata por Lenin Moreno. Neste sentido é necessário destacar que o Grupo de trabalho do Foro de São Paulo, formado pelos principais partidos, decidiu incorporar ao novo partido de Rafael Correa como membro do fórum, respaldando desta maneira o ex-presidente diante da perseguição política e judicial sob a qual está submetido, respaldo este complementado com resoluções contra a extradição de Julian Assange ou em defesa da Unasul que o governo equatoriano está deixando sem sede.
O momento não só é complexo a nível de correlação de forças no continente, mas o fórum também atravessa por um processo em que os partidos históricos de esquerda latino-americanos podem seguir ganhando eleições, desde a Frente Ampla no Uruguai ao MAS na Bolívia, mas também vão surgindo novas forças de esquerda, que diante da perda da mística dos processos por seu esgotamento ou por limites que impõe o progressismo e a democracia liberal, recorrem e reinterpretam os sonhos e imaginários dos povos. Neste grupo de partidos de uma nova esquerda podemos situar o Morena [Movimento de Renovação Nacional] no México, Colômbia Humana [de Gustavo Petro], Novo Peru, e a Frente Ampla do Chile. Vários destes partidos e movimentos já estão se incorporando ao Foro e será importante o diálogo que se gere entre os partidos históricos e as expressões novas da (centro) esquerda latino-americana.
Neste sentido, é necessário reconhecer os esforços realizados pelo Partido Comunista de Cuba, anfitrião do evento, para fortalecer e ampliar a relação entre as forças progressistas, sempre além com a unidade como ponto de partido. Não só com partidos políticos de esquerda, mas também com movimentos sociais (a articulação Alba Movimentos teve um papel destacado nesta edição do FSP) e intelectuais orgânicos (representados na Rede em Defesa da Humanidade, que liderou junto ao PCC o plenário de Arte e Cultura).
O caminho nesta Nossa América de altos e baixos, parece passar por aprofundamento nesta articulação entre partidos, movimentos e intelectuais; e a fórmula para superar os limites já conhecemos, não deixar que a potência política fique reclusa no institucional. A luta institucional é importante e necessária, mas deve complementar-se com a luta de massas e com a luta ideológica e formação política.
Depois das eleições no México, o Brasil em outubro é o principal campo de batalha. Assumindo que foi possível dar um golpe político, midiático e judicial devido a ter se centrado unicamente na luta institucional, é necessário forçar a máquina da mobilização para libertar Lula primeiro e convertê-lo em presidente depois. Esta demanda (Lula livre) foi uma das mais escutadas no fórum, que também contou com a presença da ex-presidenta Dilma Rousseff.
E depois do Brasil, é necessário começar a pensar em 2019, com cenários tão importantes na disputa eleitoral e eleições presidenciais em El Salvador em fevereiro e Argentina e Bolívia em outubro.
Não vamos esperar perder mais nenhum governo para fazer autocrítica. Pensemos em nossos erros, mas também em nossos limites, para pavimentarmos o caminho a vitórias que canalizem a acumulação política e social que espaços como o Foro de São Paulo permitem construir de maneira coletiva. Para isso, sejamos, como disse Fidel, pessimistas no tático e otimistas no estratégico.
*Katu Arkonada é cientista político, autor de livros relacionados à política latino-americana e membro da Rede de Intelectuais na Defesa da Humanidade.
Edição: Portal Vermelho | Tradução: Mariana Serafini, do Portal Vermelho