Profissionais e estudantes de Medicina avaliaram os impactos do golpe na saúde do Brasil, durante a 4ª Plenária Nacional da Rede de Médicas e Médicos Populares (RNMMP).
A atividade realizada entre os dias 29 de junho e 1º de julho, em Fortaleza (CE), debateu propostas para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), além de proporcionar a troca experiências sobre o trabalho nas comunidades. Participaram das atividades 60 profissionais, organizados em 20 núcleos, presentes em 13 estados do País.
Durante os três dias foram realizadas palestras, oficinas e rodas de conversa. Marcaram presença deputados, lideranças políticas, de juventude e da saúde, como Vera Dantas, médica que trabalha com educação popular.
Aristóteles Cardona Junior, médico da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, avalia que o encontro indicou unidade no diagnóstico e na ação para enfrentar os ataques ao SUS e à democracia.
“Fortalecer ações nos estados envolve tanto denunciar e combater o desmonte que está sendo promovido contra o SUS, quanto ações positivas no sentido do fortalecimento da solidariedade, do atendimento, apoio à saúde da população, no momento em que você sabe que o sistema começa a degradar”.
As baixas coberturas de vacinação no País foram alguns dos problemas debatidos, como impacto do desinvestimento na Saúde. Em Ribeirão Pombal, município da Bahia, a taxa de imunização contra a paralisia infantil foi de 0,5%, quando a recomendação é vacinar 95% das crianças menores de cinco anos. Estes são os níveis mais baixos dos últimos 16 anos. “Isso para gente já é reflexo desses problemas todos”.
Desafios prioritários
A plenária também dialogou a respeito da necessidade de avançar na formação médica no Brasil. “Essa é uma discussão que não pode ficar somente no ambiente acadêmico. O ambiente acadêmico é importante, mas não pode estar descolado das necessidades gerais da população de nosso país”, disse Cardona.
Segundo o médico, a proposta é fortalecer a Rede nacionalmente, por meio de ações que serão realizadas nos próximos meses, como a preparação do Congresso do Povo.
A proposta é estimular outros profissionais e estudantes a trabalharem juntos com outros movimentos sociais do campo progressista.
Ao falar sobre a formação, Cardona lembra que políticas estruturantes, como o Mais Médicos, sofreram paralisação.
“A gente vinha observando, até o golpe, a construção de uma política estruturante, tanto na criação de novas vagas de Medicina, quanto de novas vagas de Residência Médica direcionadas às necessidades da população. Com o golpe, houve um estancamento”.
O encontro também possibilitou a troca de experiências clínicas, que vão dos grupos preventivos, como parte do trabalho de profissional médico generalista, até o resgate da autoestima de uma comunidade com altas taxas de violência.
Avaliação
João Paulo Rodrigues, da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ressaltou, na abertura da plenária, a importância de associar o debate da saúde com a produção alimentar na agenda eleitoral.
A sanitarista Lívia Milena Barbosa Mello, fisioterapeuta, integrante do Centro de Estudos Brasileiros de Saúde (Cebes) e professora de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRBA), valorizou a RNMMP como uma ferramenta de organização popular de uma categoria historicamente em disputa no Brasil no campo da saúde.
Segundo Mello, a Rede chega num momento de reposicionamento das forças políticas e demarca que existem médicos brasileiros servindo ao povo. “[A Rede] chega num momento crucial em nosso País. A 4ª Plenária reafirma o papel da Rede de Médicos no campo da saúde coletiva, do movimento sanitário brasileiro e renova, reoxigena, esse movimento”.
Edição: Katarine Flor