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Jogadores africanos e asiáticos continuam na Copa atuando em times colonizadores

Dos 736 jogadores inscritos na Copa, 82 não atuam no país de origem

Kazan, na Rússia |

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A Bélgica tem um plantel formado por mais de dez jogadores com ascendência estrangeira, entre eles o zagueiro Kompany
A Bélgica tem um plantel formado por mais de dez jogadores com ascendência estrangeira, entre eles o zagueiro Kompany - Wikimedia Commons

A Copa do Mundo chegou à reta final com um predomínio de seleções europeias e sul-americanas. O Japão foi a última seleção asiática a voltar para casa, após uma derrota para a Bélgica nas oitavas-de-final. Entre os representantes do continente africano, o Senegal fez a melhor campanha, mas não passou da primeira fase nos critérios de desempate.

Mesmo assim, a Ásia e a África foram muito bem representadas nas quartas de final. Na soma das equipes existia uma delegação inteira de jogadores migrantes ou filhos de cidadãos nascidos nos dois continentes.

Dos 736 jogadores inscritos na Copa, 82 não atuam no país de origem.

A Bélgica, adversária do Brasil nas quartas de final, tem um plantel formado por mais de dez jogadores com ascendência estrangeira. Quatro deles são filhos de cidadãos que migraram da República Democrática do Congo, território comandado e devastado pelo antigo rei belga Leopoldo II. Mais de dez milhões de pessoas morreram nas mãos dele, e hoje os descendentes desses congoleses defendem as cores da metrópole. O zagueiro Kompany e o atacante Lukaku são os exemplos mais conhecidos.

A queixa mais frequente dos jogadores migrantes e filhos de migrantes é a seletividade nas críticas. Na Inglaterra, o descendente de jamaicanos Sterling sofreu injúrias raciais no final do ano passado em função de sua origem. Quando a seleção inglesa joga bem, a imprensa ressalta o fato de que os 23 convocados atuam na liga nacional do país. Quando o desempenho não agrada, a culpa é dos "estrangeiros" que supostamente "mudaram para pior o estilo de jogo britânico".

O fato é que as potências europeias se fortaleceram muito com a integração de migrantes e filhos de estrangeiros em suas seleções de futebol.  A França, por exemplo, veio à Rússia com descendentes de cidadãos nascidos nas Filipinas e em sete ex-colônias africanas, e apresentou seu melhor futebol desde 1998.

Edição: Júlia Rohden