Conforme as eleições presidenciais do México – marcadas para o dia 1º de julho – se aproximam, a violência política tem crescido em níveis alarmantes. A jornalista e escritora mexicana Nancy Flores cita a classificação do Comitê de Participação Cidadão, do Sistema Nacional Anticorrupção, que qualifica que "o país vive hoje um clima de terrorismo eleitoral". Nos últimos dez meses, já são 110 candidatos e candidatas assassinados.
O mais recente assassinato ocorreu no último sábado (2), no estado de Oaxaca. Pamela Terán Pineda, do direitista Partido Revolucionário Institucional (PRI), o mesmo do atual presidente, e candidata a vereadora municipal na cidade de Juchitán, foi executada. Uma fotógrafa e um segurança que estavam com a candidata também foram mortos.
Depois da emboscada que matou Terán, os candidatos a prefeito do município, de todos os partidos, decidiram paralisar suas campanhas e exigir garantias de segurança diante do quadro de violência. Além disso, 117 políticos denunciaram serem vítimas de ameaças nesse mesmo período.
Essas cifras representam um aumento de 385% das agressões registradas em relação ao último processo eleitoral, em 2015, de acordo com a empresa de consultoria Etellekt, que produziu um relatório sobre a violência política no país.
Oposição ameaçada
O relatório aponta ainda que 72% dos casos de violência política, entre novembro de 2017 e maio de 2018, tiveram como alvos políticos os partidos de oposição. Entre os dias 8 e 26 de maio foram registrados 52 ataques. A maior parte foi efetuada contra os membros do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), do candidato de centro-esquerda à presidência, Andrés Manuel López Obrador, que lidera as pesquisas de intenção de votos, segundo informou o canal internacional Telesur.
Já os estados mais perigosos são Guerrero, Oaxaca, Jalisco, Michoacán, Colima e Nayarit, com 50 políticos assassinados.
De acordo com a jornalista Nancy Flores, autora do livro La farsa: Detrás de la guerra contra el narco (2012), mais de 90% dos crimes cometidos não são investigados. “Além dos crimes perpetrados pelo crime organizado, vemos uma situação de violência política que não tem vinculo com o narcotráfico. Mas a falta de investigação dificulta a identificação sobre qual é a verdadeira origem dessa violência”, afirma. A jornalista também atesta que neste ano a violência contra os políticos “é diferente daquela dos processos eleitorais dos últimos dez anos”.
O historiador e doutor em Ciências Penais, Martín Gabriel Barrón Cruz, aponta que boa parte desses crimes são cometidos pelo cartéis de drogas. Para ele, uma das explicações para o aumento da violência está relacionada ao crescimento do número de cartéis. “No México, até o ano 2000, havia sete grandes cartéis de drogas. Hoje são aproximadamente 130 grupos. Esses cartéis não controlam apenas o mercado das drogas, mas também uma parte importante da política”, analisa Barrón, que é professor e pesquisador do Instituto Nacional de Ciências Penais do México.
Para o pesquisador, o aumento do número dos cartéis se deve às políticas militaristas aplicadas principalmente pelo ex-presidente Felipe Calderón, que governou o país entre 2006 e 2012, e pelo presidente Enrique Peña Nieto, no poder desde 2012. “A militarização provocou a divisão dos grupos devido à estratégia de 'eliminar os cabeças' do governo mexicano, ou seja, matar ou prender os principais líderes dos grupos do crime organizado. As autoridades acreditam que ao neutralizar os líderes, o grupo vai acabar, mas não é o que ocorre”.
Violência contra a imprensa
Além dos políticos, os jornalistas também são alvos frequentes do crime organizado. “Só esse ano foram executados sete jornalistas mexicanos. No ano passado, haviam sido assassinados 11 jornalistas, um dos índices mais altos do mundo – atrás apenas da Síria, com 12 mortos”, informou Nancy Flores, que também faz parte da revista de jornalismo investigativo Contralineas. Em toda a América Latina, foram executados 65 profissionais da imprensa em 2017, segundo dados da organização Repórteres Sem Fronteiras.
Diante do aumento da violência contra comunicadores, um grupo de 40 profissionais reuniu-se no estado mexicano de Sinaloa, em maio deste ano, para formular um documento que foi entregue aos candidatos presidenciais exigindo a criação de uma política de segurança e de proteção aos jornalistas.
Caminhos e soluções
Os dois especialistas em violência entrevistados pelo Brasil de Fato afirmaram que, embora a segurança pública seja o principal desafio do presidente que será eleito no próximo 1º de julho, é difícil vislumbrar mudanças a curto prazo.
"Impacto imediato não haverá, porque já estamos em um nível de violência de alta complexidade. Mas o que sem dúvida poderia mudar é essa política imposta pelos Estados Unidos, essa visão da segurança pública militarizada. A militarização foi imposta em um momento de muito descontentamento, em que pesava a desconfiança de fraude eleitoral, quando Felipe Calderón assumiu o governo em 2006", pontua Flores.
Barrón concorda com a escritora e também acredita não existam soluções simples para o problema da violência. "As propostas dos candidatos não oferecem soluções críveis. Todos eles falam em aumentar o policiamento, mas isso não vai resolver o problema. O que necessitamos é uma polícia eficiente. Além disso, não temos um Ministério Público capacitado, muito menos uma perícia que seja capaz de ajudar a solucionar os crimes", destaca Barrón.
Edição: Pedro Ribeiro Noigueira