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Artigo da Foreign Policy defende abertamente golpe militar na Venezuela

Texto, escrito por ex-membro da USAID, diz que militares são a 'única instituição capaz' de fazer uma transição política

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Em sua página na internet, revista que é referente na espera diplomática destaca "É hora de um golpe na Venezuela"
Em sua página na internet, revista que é referente na espera diplomática destaca "É hora de um golpe na Venezuela" - Foto: Reprodução

Um artigo publicado nessa terça-feira (05) no site da revista Foreign Policy, uma das publicações internacionais mais importantes do mundo sobre diplomacia, defende abertamente um golpe militar na Venezuela para derrubar o governo de Nicolás Maduro.

O texto, que tem como título “É hora de um golpe na Venezuela”, é assinado por José R. Cárdenas, ex-assistente administrativo interino para a América Latina da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) durante o governo de George W. Bush, que ficou no poder entre 2001 e 2009.

A revista, de viés mais conservador, foi fundada em dezembro de 1970 pelo professor de Harvard Samuel P. Huntington e pelo banqueiro Warren Demian Manshel, que depois foi indicado pelo então presidente Jimmy Carter (1977-1981) como embaixador dos EUA na Dinamarca.

Ela é uma das mais tradicionais da área de política externa e influencia diplomatas do mundo inteiro, especialmente nos EUA. Atualmente, é controlada pela Graham Holdings Company, ex-dona do jornal Washington Post.

A publicação é bimestral, mas o conteúdo do site – onde foi publicado o texto defendendo o golpe na Venezuela – é atualizado diariamente.

O que diz o artigo

O artigo afirma que é “impossível dizer quanto tempo Maduro ficará no poder” após as eleições (realizadas em maio). Segundo Cárdenas, a “baixa participação” nas eleições (que, na verdade, foi equivalente à de outras eleições na América Latina) e a “crescente dissensão entre os militares” mostrariam que o governo venezuelano estaria em dificuldades.

Partindo deste princípio, e questionando se quem “corre contra o tempo” é o governo de Maduro ou aqueles “lutando pela restauração da democracia” no país, o texto diz que “diálogo ou diplomacia não podem trazer uma resolução para a crise na Venezuela”. De acordo com a publicação da revista, “é evidente que o regime de Maduro não tem intenção de negociar sua saída do poder” e tenta “comprar tempo”.

“Devemos admitir que a única instituição capaz de instigar uma transição política real na Venezuela são os militares venezuelanos”, afirma o texto, citando um artigo da revista The Economist, que diz que “o futuro do país seria decidido pelas Forças Armadas”. “Claro, ninguém quer ver uma regressão à Idade das Trevas Latino-americana, na qual golpes militares são a norma, a custo do regime civil e da democracia”, diz Cárdenas.

“Somente nacionalistas entre os militares podem restaurar uma democracia constitucional legítima”, afirma o texto, que alega que um golpe já teria sido dado na Constituição do país “por Maduro e seus conselheiros cubanos”.

A publicação, ao mesmo tempo, diz que “esperar que uma facção das Forças Armadas deponha o atual regime e restaure a democracia embute riscos – mas é uma medida advinda das condições desesperadas nas quais a Venezuela se encontra”.

O texto defende, também, a adoção de sanções mais duras contra Caracas por parte dos Estados Unidos e de países da região. “Disseminar evidências, de maneira mais agressiva, da traição do atual regime ao povo venezuelano, combinadas com a ameaça de continuar expandindo sanções contra oficiais do governo que voltam seus esforços para a repressão, é provavelmente a melhor aposta para catalisar desenvolvimentos positivos na Venezuela”.

“A pior opção seria permitir a consolidação de outro regime autoritário e repressivo no hemisfério, o que realmente anunciaria um retorno à Idade das Trevas nas Américas”, conclui o texto.

Secretário dos EUA já sugeriu golpe militar

Em fevereiro deste ano, o então secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, sugeriu que um golpe militar poderia fazer com que a Venezuela “retornasse à Constituição”. "Não defendemos uma mudança de regime ou a retirada do governo do presidente Nicolás Maduro. Defendemos que eles retornem à Constituição. Na história da Venezuela, como na história de outros países da América Latina, muitas vezes são os militares que lidam com isso", disse, ao ser questionado em um evento na Universidade do Texas.

"Quando as coisas estão tão mal assim, quando a liderança militar entende que ele [governo] não pode mais servir aos cidadãos, eles tentam uma transição pacífica. Se isso acontecerá ou não, eu não sei", concluiu.

A fala repercutiu muito mal entre os países sul-americanos. Em comunicado oficial, o governo da Venezuela condenou "categoricamente as novas e graves ameaças do regime dos Estados Unidos da América contra a paz, a estabilidade e a democracia".

O presidente da Bolívia, Evo Morales, chegou a pedir uma reunião de emergência da Unasul (União Sul-Americana de Nações) para discutir as ameaças. “Quero aproveitar esta oportunidade para expressar nossa solidariedade com a Venezuela, ante as constantes ameaças de intervenção. Os EUA têm que deixar de nos ameaçar”, disse, pelo Twitter.

O então chanceler do Chile, Heraldo Muñoz, afirmou que o país nunca estaria a favor “de uma intervenção militar ou de outra natureza na Venezuela”. “Nos opomos aos golpes de Estado e ao uso da força; queremos uma saída pacífica, eleitoral, política para a situação”, afirmou.

Edição: Opera Mundi