Copos, vasos e potes de todos os tamanhos, feitos a partir da argila, ganham forma nas mãos habilidosas de Rosemeire Pereira, que mora há quatro anos no assentamento Maju, de São Sebastião do Passé, no Recôncavo baiano. Na sequência, as peças são queimadas e envernizadas.
“Já trabalho com argila há vinte anos. O meu esposo, que me ajuda, trabalha com isso há 40 anos. É maravilhoso trabalhar com argila porque, além da beleza que as pessoas olham por fora, isso também mexe um pouquinho por dentro. Tem pessoas que chegam tristes, olham os vasos e ficam diferente. É trabalhoso, tem o processo todo de preparar a argila, o vaso, a queima, mas é gratificante”, conta a artesã.
O processo de ocupação da área improdutiva que deu origem ao assentamento começou em 1997. A fazenda Panema, da empresa Sibra Florestal, era produtora apenas de eucaliptos e não tinha função social.
Depois de uma longa luta pela desapropriação, que aconteceu em 2000, a fazenda deu lugar a dois assentamentos: o Maju e o Nova Panema.
Visando se tornar um assentamento modelo, o Maju, onde Rosimeire vive com sua família, está buscando condições para construir uma casa de farinha e comprar uma desempolpadeira, que podem ampliar as oportunidades de trabalho. Essas inovações, entretanto, não tomam o lugar do artesanato.
Rosimeire explica que “com argila, é só a minha família que trabalha. Mas tem gente que trabalha com madeira, com cipó para fazer cestas, com talisca de dendê para fazer móveis. Tem bastante gente com interesse no artesanato”.
Além de dar a possibilidade de criar, de fortalecer as relações familiares e de complementar a renda, a argila trouxe outra perspectiva de mundo a Rosemeire. Foi por meio dela que a artesã passou a poder viajar, para expor nas feiras, e, assim, conhecer outras pessoas. “Isso é muito importante. Eu não vejo só a parte financeira, mas também a gente conhece gente de fora e acaba levando um pouco de cada um para nossa cidade. É isso que importa”.
Renda familiar
Há 15 anos, a economia de Santana dos Frades, em Pacatuba, a 116 km de Aracaju (SE), girava somente em torno da agricultura e da pesca, atividades desempenhadas quase que exclusivamente pelos homens. Dona Maria José e dona Ana Lúcia vivem no assentamento desde que nasceram e juntas fazem bolsas e esteiras artesanais para completar a renda familiar e ter independência financeira.
Atualmente, cerca de 200 famílias vivem na área de 1.401 hectares de Santana dos Frades. E, apesar da comunidade produzir aproximadamente 76 toneladas de pescado ao ano, a região tem um baixo índice de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) --0,555, de uma nota máxima de 1.
A economia gerada pelo artesanato, que pode chegar a R$ 3.000 ao mês, traz uma nova perspectiva para toda a comunidade. As esteiras feitas com a taboa estão presentes na vida de Maria José e Ana Lúcia desde a infância.
O processo de elaboração das bolsas e esteiras é bastante trabalhoso. Primeiro, é necessário mergulhar na água, cortar a palmeira sem perder o broto, separar a palha de fora, que é a taboa, e extrair a fibra de dentro. Com sol quente, a palha demora 15 dias para curar e a fibra, três dias.
Com a fibra, são feitos trançados delicados que, junto à taboa, são usados para fazer as bolsas. Depois que a palha e a fibra estão curadas, Ana Luísa demora cerca de dois dias para elaborar uma bolsa de aproximadamente 50 cm, que consegue vender por cerca de R$ 60.
*Rodrigo Brucoli participa do projeto Repórter do Futuro, da Oboré.
Edição: Juca Guimarães