A Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito reuniu uma multidão em frente ao Congresso da Argentina para promover um “pañuelazo federal” (manifestação por todo o país que teve como símbolo lenços verdes). Desta maneira, as militantes celebraram o Dia Internacional pela Saúde das Mulheres e o 13º aniversário de fundação desta campanha, ocorrido na última segunda-feira (28).
A atividade aconteceu em localidades da Província de Buenos Aires, dos estados de Chaco, Chubut, Córdoba, Entre Ríos, La Pampa, Misiones, San Juan, Salta, Tucumán e Tierra del Fuego, entre outros. O objetivo da ação era impulsionar o projeto de Interrupção Voluntária da Gravidez (IVE, na sigla em espanhol), apresentado pela campanha e que será votado na Câmara dos Deputados do país no próximo dia 13 de junho.
“É incrível o quanto crescemos neste tempo, na riqueza das adesões e das ações realizadas em todo o país”, disse Martha Rosemberg, militante histórica da campanha, ao Página 12. “Creio que fizemos um grande trabalho no que nós chamamos de despenalização social do aborto, que passou de um tópico totalmente oculto, estigmatizado, para ser um tema de primeira importância política nos meios de comunicação. Creio que se deu uma mudança cultural muito notável desde que começamos, e espero que nesses dias também ocorra uma mudança legislativa”, afirmou Rosemberg.
Manifestação nacional
O clima foi de festa, com meninas cantando ao ritmo da canção Bella Ciao, “este é meu corpo e eu decido que o aborto seja legal”. Os lenços (pañuelos, em espanhol) estavam nos pescoços, mochilas e, inclusive, servindo de tiaras nos cabelos, e o verde se pode ver até na maquiagem: brilhos, sombras e batons.
O palco era pequeno e foi decorado com dinossauros de plástico com lenços azul celeste, como começaram a usar aqueles que advogam contra a legalização do aborto. A partir daí, começou uma rádio aberta, pela qual passaram representantes de distintos coletivos feministas, como Las Rojas (As Vermelhas) ou as jornalistas do site Economia Femini(s)ta.
Pela campanha, foi lida uma declaração que afirmava que “uma vez mais na história do nosso país, um lenço nos dá um sentido de irmandade”. Mostraram-se otimistas e asseguraram que “o aborto legal será lei”. No documento, se sustenta que a despenalização e legalização do aborto é “um imperativo de saúde pública, justiça social e direitos humanos”.
Também exigiram dos deputados um debate “respeitoso e informado”, porque a campanha aponta que, durante as exposições dentro das comissões da Câmara, os argumentos contra a legalização evidenciava “posições retrógradas e conservadoras” e tinham um “corte religiosos e/ou falácias sentimentalistas de efeitos impactantes”.
Depois da leitura do texto, as representantes da campanha entoaram um canto pedindo “aprovem nosso projeto, que seja lei, que seja lei”.
História
María José Lubertino, ex-titular do Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (Inadi), destacou que a luta histórica provida pelo feminismo “desde 1994, quando foi debatido na constituinte e conseguimos que os dinossauros, alguns deles que seguem até hoje, não bloqueassem o aborto legal, seguro e gratuito”.
A ativista também sinalizou que “lentamente se está compreendendo o tema em todos os lugares” e destacou que o caso da província de Salta, onde o governador, Juan Manuel Urtubey, aderiu à aplicação do protocolo nacional do aborto não punível.
Lubertino qualificou ainda como “uma vergonha” aqueles que agora se manifestam contra o aborto e pedem educação sexual, porque “são os que se negavam a que existisse a educação sexual integral”.
A manifestação desta semana terminou com a convocatória da marcha Nenhuma a Menos (Ni Una Menos, em espanhol), no próximo dia 4 de junho, e afirmou que “nos vemos no dia 13, com o aborto legal saindo do Congresso”.
Ao final, todos levantaram seus lenços verdes para pedir que se sancione a lei do IVE, em uma grande celebração. Ao final, militantes históricas do movimento subiram ao palco para apagar uma vela verde que simbolizava o aniversário da campanha.
Edição: Vivian Fernandes (tradução e versão em português)