Há 15 anos a rede privada de ensino da cidade de São Paulo não enfrenta uma greve de professores. A paralisação ocorrida na última quarta-feira, dia 23 de maio, dá indícios que essa realidade pode mudar já que o sindicato patronal e o sindicato dos trabalhadores não entraram em acordo sobre a convenção coletiva da categoria. Outra paralisação já está marcada para a próxima terça-feira, dia 29 de maio.
Cerca de 32 escolas tiveram as atividades suspensas. Esta é a primeira paralisação da categoria desde a greve geral de 28 de abril do ano passado. Chama a atenção a presença massiva de pais e alunos apoiando os professores.
Mãe de Anna Maria, estudante do sétimo ano do Colégio São Domingos, Juliana Matheus, estava presente com sua filha na manifestação.
“Eu, como mãe, acho que neste momento temos que dar apoio para eles, principalmente porque estão reivindicando direitos garantidos, nada além disso”, diz.
Juliana conta que Colégio São Domingos não vai aderir às propostas do sindicato patronal, mas mesmo assim, a comunidade escolar aderiu à paralisação em apoio aos professores de outras escolas.
Sem acordo
A última convenção coletiva da categoria teve fim no dia 28 de fevereiro e, sem acordo, os professores da rede privada se encontram em estado de greve desde março. É o que revela o professor Guilherme, nome fictício do docente que articulou a paralisação de quarta-feira e, por receio de represália, não quis se identificar.
Para ele, a reforma trabalhista abre precedentes para a não manutenção de direitos já que os pontos questionados pelo Sieeesp, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, são relacionados a direitos conquistados há mais de 20 anos.
Entre as reivindicações dos professores estão a manutenção dos 30 dias de recesso no final do ano (o sindicato patronal quer reduzir para 23 dias); e do número de duas bolsas de estudo para os filhos dos professores, já que o sindicato quer reduzir de duas para uma em escolas com menos de 200 alunos.
Os professores lutam ainda pelas férias coletivas e pela semestralidade garantida após um ano e meio de escola. Ou seja, caso seja demitido, o docente continua a receber salário até o final do semestre. O período mínimo para poder acessar esse direito é de um ano e dois meses e o sindicato patronal quer aumentar para três anos.
Os professores enxergam neste desacordo, com relação à convenção coletiva, uma tentativa de legalizar muitas vezes práticas ilegais que já ocorrem na rede privada.
Apoio
A pressão da comunidade escolar, nesta queda de braço, é essencial, segundo Thiago Klein, pai de um aluno da Escola Politeia, que também garantiu que não vai submeter seus professores à proposta patronal.
“A comunidade tem que envolver sim as famílias, e elas têm mais do que o direito, têm o dever de brigar por melhorias nas condições dos professores porque são eles que diariamente ficam com nossos filhos, são eles que tem a função de educar, mostrar o mundo, construindo ações políticas pedagógicas com as nossas crianças”, avalia o pai.
O professor Guilherme lembra que nos últimos dez anos grupos de investidores como o Somos, o Kroton e o Baema gerenciam as principais escolas particulares da cidade.
“Importante destacar que esses grandes grupos de investimentos enxergam na escola uma possibilidade de lucros altos que vão sendo desejados a partir da retirada de direitos”, para o professor as escolas são vistas apenas do ponto de vista da lucratividade.
Segundo o Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), ao todo, a cidade tem 2.500 escolas de educação básica na rede particular.
Em nota intitulada "as desrazões para a greve", o Sieeesp, sindicato patronal questionou o 30 dias de recesso que os professores recebem para além dos 30 dias de férias. " Quem mais, além dos professores, desfruta de 60 dias de férias?", perguntou. Além disso, afirmou que segue de portas abertas às negociações".
Edição: Katarine Flor