A Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo vistoriou, nesta quarta-feira (16), o Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista, na zona Leste da capital. A iniciativa foi provocada por denúncias sobre falta de médicos, superlotação, problemas de má gestão e de estrutura do hospital.
Os vereadores Gilberto Natalini (PV), Milton Ferreira (Podemos) e Juliana Cardoso (PT) se reuniram com o diretor do hospital, Mário João Salviatto, na presença de conselheiros de saúde da unidade, do Conselho Municipal de Saúde, e de Walney Araújo, diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep).
A vereadora Juliana Cardoso (PT-SP) pediu que fossem apontadas as necessidades da unidade.
“Hoje, a comissão está aqui para dialogar sobre o que pode ajudar. Sabemos que o hospital está passando por dificuldades, principalmente por conta da lotação de pessoas que a rede, muitas vezes, não dá conta, ou a questão das AMAs [Assistências Médicas Ambulatoriais, que tiveram 108 unidades fechadas pela prefeitura] também dificultou bastante para que as pessoas procurassem muito mais o Pronto-Socorro”, explica.
Menos médicos
Segundo Rose Bonfim, técnica de enfermagem e conselheira-gestora do Tide Setúbal, falta pediatra até para prescrever receitas e avaliar a necessidade de uma transferência na internação, ou apenas para dar alta aos pacientes.
“Faltam leitos, e aí se falta médicos a gente não consegue fazer a visita adequada, a evolução do paciente, uma alta [hospitalar], porque se eu tenho hoje 20 crianças internadas na pediatria e falta médico para passar a visita, essas crianças vão continuar [internadas]”.
Além do risco para as crianças, a técnica explica que a ausência do médico impede o surgimento de novas vagas no hospital.
Fermina da Silva Lopes, moradora e ativista do Movimento de Saúde da Zona Leste, também aponta a falta de anestesistas e ambulância para atender gestantes.
“Eu tenho uma preocupação a respeito dos anestesistas, que tem dias que não têm. Eu acompanho as mulheres gestantes, que muitas vezes desenvolvem para um trabalho de parto de cesárea e não tem o anestesista. Na hora de transferir, muitas vezes não tem ambulância na porta. Como fica? É do Cejam [Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim, OSS responsável pela ambulância], é do serviço público”, questiona Fermina.
Luiz Carlos Zamarco, responsável pela Autarquia Hospitalar Municipal (AHM), que cuida dos hospitais pela Secretaria Municipal de Saúde, minimizou a questão do fechamento de AMAs e atribuiu a forte demanda nos PS da cidade ao período sazonal e a doenças respiratórias.
“Grande número de médicos desse hospital vieram contratados de emergência, muitos pediram demissão e a gente tem essas vagas que foi autorizada agora, o concurso foi feito, temos bastante escolha pra região e assim que autorizar a gente vai estar resolvendo isso. Não dava para esperar, então tivemos um Plano B. Chamamos um parceiro para, enquanto a gente aguarda esses médicos do concurso, contratar médicos emergencialmente não apenas para esse hospital, mas para outros que estão com o mesmo problema”, disse.
Condições precárias
Gabriela Del Varge, conselheira gestora do hospital, também acrescenta que a reforma e manutenção geral da unidade hospitalar é urgente.
“Porque nós tivemos o teto que caiu no Pronto Socorro Infantil [em 1º de março deste ano, o forro da sala de espera pediátrica desabou sobre pacientes, incluindo dois bebês], graças a Deus não houveram feridos, mas é triste. Temos um problema na psiquiatria, que por uma questão de uma reforma entra água e eles ficam alagados quando dá uma chuva muito forte”.
Claudia Afonso, moradora da região e ex-coordenadora regional de Saúde Leste, propôs a conclusão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) inacabada a duas quadras do hospital, e a utilização da Rede Hora Certa.
“É engraçado, porque não tem recurso, mas estão arando o terreno ao lado para colocar a unidade móvel que está em Itaquera, para por do lado. Como querem que a população entenda que não tem o dinheiro para equipar ali e fazer a UPA funcionar e tem dinheiro pra por uma [carreta] pra fazer exames? E se vocês derem 22 passos aqui atrás [do Tide] tem o Rede Hora Certa, completo, com três centros cirúrgicos”.
Durante a vistoria da Comissão pelas alas de internação clínica e pediátrica, além dos Prontos-Socorros adulto e infantil, os vereadores Milton Ferreira (Podemos) e Juliana Cardoso (PT) ouviram reclamações de quem aguardava há mais de três horas pela consulta médica na Assistência Médica Ambulatorial (AMA) Tito Lopes, dentro das dependências do Hospital Tide Setúbal, e também de mães com os filhos no Pronto-Socorro Infantil.
Também foram verificadas problemas de infraestrutura, paredes com desgastes próximos dos leitos infantis, cama quebrada, leitos sem colchões e banheiros sem condições de uso, na internação da clínica médica. Elevadores sem manutenção e espaços de observação infantil sem ventilação.
Outro lado
A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde encaminhou nota da Autarquia Hospitalar Municipal (AHM) informando que "os profissionais aprovados em concurso público suprirão a demanda deixada pelos médicos dos contratos de emergência que pediram demissão do Hospital Municipal Tide Setúbal".
A nota da AHM afirma também que o Hospital Tide Setúbal conta "com 268 profissionais médicos, sendo 118 da administração direta". "Além desses, há também os profissionais das empresas terceirizadas, como os 47 que atuam no pronto-socorro e os 57 da AMA, pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), além de outros 31 pelo Centro de Estudos e Pesquisas João Amorim (Cejam), e mais 15 pela Prime Anestesiologia & Medicina Perioperatória", diz o texto.
A nota afirma que a "enfermaria da pediatria está reformada e adequada às necessidades dos usuários e há previsão de reforma na sala de observação infantil", mas não informa a data para a intervenção.
Com relação à obra da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Tito Lopes, próxima ao Hospital Municipal Tide Setúbal, informou que não está finalizada e a previsão de conclusão e abertura é para este ano.
Sobre a utilização dos centros cirúrgicos mencionados na matéria, a Secretaria Municipal de Saúde, por meio de sua assessoria, informa que "o Hospital Dia da Rede Hora Certa de São Miguel funciona de segunda a sexta, das 7h às 19h e, por isso, o seu centro cirúrgico não é adequado para a realização de cirurgias de média e alta complexidades".
Edição: Diego Sartorato