Vestido de irmão Metralha em cima de um palco, sob as fotos do juiz Sérgio Moro e da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, em frente ao seu Bahamas Hotel Club, o empresário Oscar Maroni - agarrando uma mulher nua tamanho como se estivesse a enforcando - distribuiu 9.000 latas de cerveja no dia em que foi decretada a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última sexta-feira (6). A imagem, amplamente divulgada, é um retrato do golpe para Maria Fernanda Marcelino, militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM).
"Ele é o empresário da prostituição, representa a indústria da exploração das mulheres. Ele, como um cafetão, segurando uma mulher que não é uma prostituta, é uma mulher prostituída, na frente do Moro e da Cármen Lúcia, que é a pessoa máxima do Supremo, é uma imagem que sintetiza o que foi o golpe de 2016. Está tudo ali", afirma Maria Fernanda.
A reportagem procurou Moro e a presidente do STF para repercutir o uso de suas imagens, mas eles não quiseram se manifestar sobre o assunto.
Para a militante, o golpe que tirou a ex-presidenta Dilma Rousseff do poder foi essencialmente patriarcal. "O Estado é conivente com Oscar Maroni, com a indústria do sexo e da pornografia que ele representa. Ele, inclusive, se diz vítima porque sua atuação não é legalizada. É um golpe que persegue uma parte da população, a esquerda, e abona outra, a direita", diz Maria Fernanda.
Autodenominado "magnata do sexo", foi acusado pelo Ministério Público de São Paulo de manter casa de prostituição e de “facilitar ou induzir a prostituição alheia” no Bahamas. Maroni foi condenado em primeira instância em 2011, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) o absolveu em outubro de 2017.
Lourdes Barreto, líder do Movimento das Prostitutas, também se manifestou em seu Facebook contra o evento do empresário. "É um explorador e oportunista. Defendemos os direitos das prostitutas até para que elas não sejam exploradas por tipos assim", disse em vídeo publicado em sua rede.
O movimento publicou uma nota de repúdio contra a humilhação de mulheres. "Apontamos como o retrato mais bem acabado do golpe brasileiro a atitude grotesca do empresário paulistano Oscar Maroni, golpeando e humilhando uma prostituta, sob aplausos dos que comemoravam a prisão de Lula e à luz das fotografias de duas peças-chave do desastre brasileiro: Sergio Moro e Carmen Lúcia. O recado dado por esse empresário não poderia ser mais explícito: exploração sem receios garantida pelo judiciário corrompido", diz o texto.
Na ficha de Maroni ainda consta uma denúncia de coação de testemunhas. Durante o processo sobre prostituição, a promotoria acusou Maroni de persuadir e ameaçar uma testemunha. Ele chegou a ser preso em flagrante em abril de 2009, com o carro estacionado em frente ao prédio da mulher que iria depor contra ele. Foi solto em julho daquele ano. Em dezembro de 2016, ele também foi absolvido dessa denúncia pela 27ª Vara Criminal de São Paulo.
O empresário, que também é fazendeiro, ainda alimenta o sonho de ser presidente da República. Ele é pré-candidato ao posto pelo Podemos.
Ocupação
Cerca de 300 integrantes ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam, na manhã desta terça-feira (17), a Fazenda Santa Cecília, de propriedade de Oscar Maroni. A área fica em Araçatuba, interior de São Paulo.
Esta é quarta ocupação do movimento na área do empresário. A fazenda possui cerca de 700 hectares, e já esteve envolvida em processos trabalhistas que a levaram a leilão em 2016. O MST exige que a área seja destinada à Reforma Agrária.
A ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária e denuncia as violências de Oscar Maroni. Ao longo desta terça-feira, os movimentos populares ligados à Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo realizam uma série de mobilizações em todo o Brasil. Além de rememorar os 22 anos de impunidade do Massacre de Eldorado dos Carajás, as ações também denunciam a paralisação da Reforma Agrária, a arbitrariedade da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reivindica agilidade nas investigações do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Edição: Juca Guimarães