Professor de Ciência Política na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Armando Boito afirmou, em entrevista à Rádio Brasil de Fato, que o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba (PR), desrespeitou outras instâncias do judiciário brasileiro ao decretar a prisão do ex-presidente Lula, na última quinta-feira (5). Para Boito, Sérgio Moro tem recebido carta branca para atuar de maneira controversa.
“Ontem de manhã o presidente do TRF-4 declarou que ainda havia recursos a serem apresentados na segunda instância, e só após isso, poderia se tomar uma decisão. No entanto, uma turma desse mesmo tribunal, em desrespeito a legislação vigente, autorizou o Moro a efetuar a prisão. No Brasil de hoje, cada um fazer o que quer, mas especialmente o Moro, que faz o que quer no judiciário”, afirmou Armando Boito.
Ainda sobre a atuação do magistrado, Boito acredita que o apoio promovido por setores da classe média, preocupados com a ascensão da classe trabalhadora, ocorrida durante os governos de Lula e Dilma Rousseff, tem sido decisivo para que a Lava Jato e Sérgio Moro ainda tenham força para seguir comentando suas atrocidades. “O apoio militante da classe média, que tem um padrão de vida muito superior, que dispõe de um secto de servidores, que não quer abrir mão disso e que viu nos governos do PT uma ameaça a esses privilégios, e elegeu o Moro como seu representante.”, avalia.
Confira trechos da entrevista com Armando Boito.
Brasil de Fato: Como você avalia essa rapidez no pedido de prisão? Qual o fundo politico?
Armando Boito: A rapidez do pedido mostra que o Moro já está ordeiro em desafiar as autoridades das quais deve obediência. Tanto o Marco Aurélio Mello, quanto a Carmén Lúcia, deixaram claro que nada poderia ser feito antes da tramitação do acórdão. Ele desrespeitou isso. Ontem de manhã, o presidente do TRF-4 , Carlos Eduardo Thompson Flores, declarou que ainda havia recursos a serem apresentados na 2ª instância, e só após isso poderia se tomar uma decisão.
No entanto, uma turma desse tribunal, em desrespeito a legislação vigente, autorizou o Moro a efetuar a prisão. No Brasil de hoje, cada juiz faz o que quer, mas especialmente o Moro, que faz o que quer no Judiciário. Mesmo dirigentes liberais, que não têm simpatia pelo PT, estão afirmando isso. Se trata de uma perseguição judicial e política ao Lula.
Vamos recordar que o juiz Sérgio Moro tornou público o áudio da conversa entre a presidente Dilma e Lula, cometendo duas irregularidades: ter gravado sem autorização e depois ter divulgado o que corria em segredo de justiça. Tudo isso gerou apenas uma advertência, um puxão de orelha do STF. Mas ele continuou chefiando a quadrilha da Lava Jato. Graças a conivência do STF ele seguiu comentando outras arbitrariedades.
Por que Sérgio Moro age assim e onde encontra amparo?
Ele tem uma força muito grande. A questão é: de onde vem? Pra mim, tem o imperialismo do EUA. O departamento de justiça dos EUA treinou todo o pessoal da Lava Jato. Por que? Porque a economia brasileira estava adquirindo um posicionamento que não interessava aos EUA, inclusive com os BRICS, e isso foi muito ousadia, atrevimento, frente ao liberalismo dos EUA.
O segundo poder é o apoio militante da classe média, que tem um padrão de vida muito superior, que dispõe de um secto de servidores, que não quer abrir mão disso e que viu nos governos do PT uma ameaça a esses privilégios, e elegeu o Moro como seu representante. Eles vão as ruas com cartazes do Moro. Quando houve a véspera da reunião do STF, teve manifestação, e tava lá a grande faixa da Lava Jato. Não é uma ação apenas externa. É uma ação externa que conta com grande apoio de gente no Brasil, com dinheiro. O capital internacional e alta classe média são o segredo da força do Sérgio Moro.
Edição: Juca Guimarães