Dener Alfaiate, indígena da etnia Kaingang, acordou cedo e viajou quatro horas para chegar até as ruínas históricas de São Miguel das Missões, um sítio arqueológico de 38 hectares remanescente da antiga redução jesuítica na região noroeste do Rio Grande do Sul.
Desta vez, o objetivo não era estudar as imagens e o legado do povo indígena, mas homenagear o ex-presidente que, segundo ele, foi o primeiro a olhar para as necessidades das comunidades tradicionais do Brasil.
“O nosso objetivo era chegar até aqui, conhecer o Lula, agradecer e dar o total apoio da nossa comunidade, para que ele saiba que a gente existe, e que estamos apoiando ele. Independente do que possa acontecer, vamos com ele até o fim”.
Crianças e adultos da Terra Indígena dos Guarita entregaram a Lula e Dilma artesanatos produzidos em sua comunidade e entoaram um canto tradicional em agradecimento aos ex-presidentes.
Formado em enfermagem através do ProUni, Dener conta como o acesso à educação transformou a realidade da comunidade indígena e como o golpe de estado tem afetado a continuidade dessas políticas.
“Nós estamos há quatro meses sem ter um paracetamol na prateleira, nos nossos postos da comunidade. Eu acho que isso é devido a um governo que não tem olhos para os pobres, para os índios”, desabafou.
Os recursos destinados aos programas de saúde indígena foram afetados por conta do congelamento dos gastos com Saúde, para os próximos 20 anos, imposto pelo governo atual.
Em julho do ano passado, o presidente golpista Michel Temer definiu que a demarcação de terras indígenas só seria permitida se os grupos comprovarem a ocupação do território antes de 1988. A medida bloqueou o andamento de centenas de processos de demarcação de terras indígenas.
Além dos indígenas, agricultores da região destacaram os grandes avanços promovidos pelos governos petistas na região. Jair José Rockenbach relata como as políticas de financiamento para a compra de maquinário possibilitaram a ampliação da produção de alimentos, mesmo em período de seca.
“Nós tínhamos aquele ProAgro Mais, então eu nunca me apertei para pagar um equipamento. Como eu não vou vir aqui para apoiar o cara?”
A visita ao sítio arqueológico de São Miguel das Missões durou cerca de duas horas. Lula estava acompanhado de deputados estaduais e federais e da ex-presidenta Dilma Rousseff. Eles conversaram com as lideranças indígenas e ouviram as demandas dos povos Guarani e Kaingang. A atividade abriu o quarto dia da Caravana Lula pelo Brasil – etapa sul – que vai percorrer mais de três mil quilômetros nos três estados da região, até o próximo dia 28 de março.
Ruralistas de plantão
Enquanto Lula visitava a parte histórica de São Miguel das Missões e era homenageado por indígenas, do lado de fora um pequeno grupo de ruralistas protestou contra a presença do ex-presidente.
Claudir Néspolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio Grande do Sul ressaltou que a caravana é pacífica e que as manifestações negativas foram orientadas por adversários políticos do Partido dos Trabalhadores.
"O Lula é o portador da esperança dos pobres para rever todos os malfeitos em Brasília. Motivo pelo qual estamos enfrentando resistência de setores locais coordenados pelo pessoal do Bolsonaro", disse.
Segundo a organização da caravana, os protestos isolados e algumas vezes violentos dos setores da extrema direita não vão alterar o itinerário previsto para a região sul.
Edição: Juca Guimarães