O líder camponês João Pedro Teixeira, que viveu na Paraíba e teve grande destaque na militância agrária no final dos anos 1950, construiu uma trajetória de luta que virou referência para os trabalhadores do campo.
Negro, pobre e sem-terra oprimido pelos interesses do agronegócio, ele viu, ao longo de sua jornada, a militância política receber como resposta a violência. E a luta lhe custou como preço mais alto a própria vida, quando, em 1962, foi assassinado durante uma emboscada arquitetada por latifundiários que atuavam na Paraíba.
Para quem conviveu com o abandono do Estado brasileiro e conheceu o lado mais cruel da violência, talvez fosse difícil imaginar que sua história fosse um dia reconhecida por esse mesmo Estado. Mas eis que, neste janeiro de 2018, o nome de João Pedro Teixeira passou a figurar no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que homenageia personalidades com destaque na história do país.
A novidade foi comemorada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), que considera a medida importante para a valorização da memória da luta agrária. A militante Miriam Farias da Silva, da direção estadual do MST na Paraíba, destaca a relevância local e nacional de João Pedro Teixeira.
"O maior legado dele pra nós como movimento camponês é que ele trouxe a bandeira da reforma agrária, que é fazer reforma na lei ou na marra", afirma.
No último dia 8, a Presidência da República sancionou a Lei 13.598/12, determinando a inclusão do nome do líder no Livro.
Teixeira nasceu no distrito de Pilõezinhos, município de Guarabira, a 90 km da capital paraibana. Ele fundou a Liga Camponesa de Sapé, a primeira do estado. As ligas foram instituídas com o objetivo de prestar assistência social a pequenos proprietários rurais, arrendatários e assalariados, defendendo os direitos desses grupos.
O historiador José Jonas Duarte da Costa, fundador do Centro de Defesa dos Direitos Humanos José Pedro Teixeira, hoje localizado na capital paraibana, assinala que a inclusão do nome do militante no Livro é importante para que a história oficial reconheça, ainda que timidamente, a luta dos trabalhadores brasileiros por direitos e emancipação.
Ele ressalta que a jornada do paraibano teve reconhecimento internacional por parte de líderes como o revolucionário argentino Che Guevara e o ex-presidente cubano Fidel Castro.
"Sem dúvida, é um herói deste país, e muitos heróis são injustiçados pela história oficial, que é a história das classes dominantes", aponta.
PL
A proposta de inclusão do nome de Teixeira no Livro partiu do Projeto de Lei (PL) 3700/12, do deputado Valmir Assunção (PT-BA). O parlamentar sustenta que a medida seria importante para, entre outras coisas, disseminar mais informações a respeito da luta pela terra.
"Vai permitir que as pessoas conheçam mais a história dos camponeses brasileiros e a perversidade, a crueldade do latifúndio contra os trabalhadores rurais -- não simplesmente a grande liderança que foi João Pedro Teixera, mas todos que acreditam no seu sonho, que dedicam sua vida a uma coletividade, e ele é esse homem inspirador", considera o parlamentar.
O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria fica exposto no Panteão da Pátria, em Brasília, e registra nomes como os de Zumbi dos Palmares, Tiradentes e Santos Dumont.
Edição: Mauro Ramos