Clube do Livro

A dialética do global e do cosmopolita em Mário de Andrade

O intelectual que se entrevê na figura do narrador parece aproximar-se do sujeito lírico dos poemas aqui apresentados.

São Paulo |
Detalhe da capa
Detalhe da capa - Divulgação/ Editora Expressão Popular

Talvez ninguém melhor que Mário de Andrade (1893-1945) ajude-nos a entender o que representa para a cultura brasileira no século XX a “dialética do local e do cosmopolita”, formulada por Antonio Candido.

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O intelectual atualizado com as conquistas da arte europeia do início dos novecentos compreendia que era preciso lutar contra o academicismo retrógrado ainda vigente na cultura brasileira das primeiras décadas do século XX, ao mesmo tempo que combatia pelo direito à pesquisa estética e pela consciência criadora nacional.

Para tanto, ele e seus companheiros modernistas entregavam-se às tarefas da pesquisa da realidade brasileira – em seus múltiplos aspectos, aí incluída a linguagem. Mas não só. A dimensão política da atuação do intelectual vai ganhando progressivamente contornos e substância nítidos.

Nesta coletânea, podemos acompanhar a produção da lírica e da contística de Mário de Andrade, bem como os processos pelos quais elas foram se depurando e constituindo novos resultados e novos significados para as questões que norteavam toda a produção do autor. A contística desempenhou papel significativo nessa produção.

Nos textos selecionados, de Os contos de Belazarte (de 1934) e de Contos novos (1947), as pesquisas linguísticas, incluído aí o “abrasileiramento de combate”, articulam-se a um movimento do narrador que busca aproximar-se de setores sociais aos quais ele não pertence mas com o qual deseja compartilhar anseios e frustrações. O intelectual que se entrevê na figura do narrador parece aproximar-se do sujeito lírico dos poemas aqui apresentados.

Abancado à sua escrivaninha na Rua Lopes Chaves, ele tem aspirações de apreender a realidade do Brasil, mesmo reconhecendo-se numa posição social que poderia afastá-lo dos que considera seus camaradas. “A arte é uma expressão interessada da sociedade”, nos diz Mário de Andrade. E o intelectual deve buscar conhecer a realidade brasileira, não por seu pitoresco, mas por aquilo que a fundamenta materialmente. E deve saber por quem e para quem luta.
 
* Ivone Daré Rabello é professora sênior de Teoria Literária e Literatura Comparada, FFLCH/USP.


Ficha Técnica

Contos e Poemas de Mário de Andrade é o livro do mês no Clube do Livro.
Autor: Mário de Andrade
Coordenação: textos selecionados por Cláudia de Arruda Campos, Enid Yatsuda Frederico, Walnice Nogueira Galvão e Zenir Campos Reis.
Editora: Expressão Popular
Páginas: 127
Preço: R$ 20

Edição: Daniela Stefano