“A gente vive em um mundo em que a produção e o consumo são colocados em primeiro lugar desde a necessidade mais básica até a mais supérflua. Então a agroecologia vem mostrar que a gente pode viver bem saudável, a gente pode viver feliz, ter qualidade de vida, mas sem necessariamente está sempre acumulando”, explica Carlos Eduardo de Souza Leite, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
Esses e outros debates sobre como a agroecologia é importante como modo de produção de alimentos e de vida, mas sem esquecer o debate sobre o contexto político e a necessidade de reforçar demandas importantes da sociedade, como a garantia aos direitos das mulheres ou o protagonismo da juventude, fazem parte da agroecologia.
E para conhecer experiências em agroecologia que já acontecem no Semiárido da Bahia, entre os dias 26 e 30 de junho, cerca de 70 pessoas percorreram quase dois mil quilômetros por seis municípios do estado durante a “Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano: no caminho das águas do São Francisco”.
A caravana passou por Juazeiro, Campo Formoso, Jacobina, Casa Nova, Remanso e Campo Alegre de Lourdes. Nela, os participantes puderam conhecer experiências em agroecologia realizadas por agricultores e agricultoras, pescadoras e comunidades tradicionais.
“Tenho coentro, pimentão, cebolinha, plantas medicinais, laranja, acerola, goiaba, maracujá, caju, pinha, manga, limão, mandacaru, plantas forrageiras como gliricídia, leucena, que serve de ração para os animais”. Toda essa fartura está no quintal agricultora Francisca da Silva Souza, do Sítio Barra, zona rural de Remanso, no Semiárido da Bahia.
Ela mostra as plantas que estão em seu quintal, todas produzidas de sem uso de agrotóxicos e diz que apesar de toda essa diversidade do lado de casa, está com pouca produção porque esse período tem sido de secas, com poucas chuvas. A água que Francisca utiliza para regar a sua produção de alimentos vem de uma cisterna de 52 mil litros, conquista pela sua família a partir da ação de organizações da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) na região. A cisterna guarda a água dos períodos de chuva para que possa ser utilizada na época de estiagem. Com os alimentos que produz em seu quintal, Francisca utiliza na alimentação da família.
Mas além desses anúncios, a caravana também percorreu localidades em que a população realizou denúncias sobre as violações de direitos que tem sofrido.
“A gente sabe que o grande desafio hoje é a gente enfrentar o lado contrário dessa luta. A gente vive da terra, só que o plano é tirar a gente da terra, tomar nossas terras para eliminar nossas vidas. Como nós trabalhadores não estamos aceitando e não vamos aceitar, a luta vai continuar pela terra, pela água”, denunciou a agricultora Maria de Oliveira, do município de Casa Nova.
Durante o Seminário “Ameaça aos Territórios Tradicionais”, que aconteceu durante a caravana e que as populações denunciaram as violações que tem sofrido por conta do agronegócio e do hidronegócio na região e da prática da grilagem de terra por grandes empresas.
As caravanas agroecológicas são uma forma de conhecer experiências em agroecologia e realizar denúncias de violações de direitos sofrida pelos povos que teve início na preparação do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que aconteceu em Juazeiro, da Bahia, no ano de 2014. E ao longo dos anos vem sendo realizada como para conhecer os territórios onde se desenvolvem a agroecologia, anunciando as experiências e denunciando as violações sofrida pelos povos.
No ano de 2018 a Articulação Nacional de Agroecologia vai realizar entre o final de maio e começo de junho, o IV ENA. A proposta é reunir pessoas de todo o país para discutir a agroecologia no Brasil, com um foco importante na relação da cidade com o campo.
“Nós queremos ir à cidade, há uma grande cidade do Brasil que já foi escolhida e será Belo Horizonte (MG). Nós vamos discutir com movimentos urbanos de resistência da privatização dos espaços públicos nas cidades e vamos nos aliar, os movimentos do campo se aliando aos movimentos da cidade para fazer um grande debate sobre o significado da agroecologia nas cidades”, explica Carlos Eduardo.
Edição: Monyse Ravenna