Era novembro de 2013, ano de intensos protestos, e o professores da rede estadual de educação estavam em greve no Rio de Janeiro. Agora, um relatório da Polícia Federal divulgado essa semana mostra que, nesse mesmo período, Luiz Fernando Pezão (PMDB) pode ter recebido R$ 50 mil reais em propina. Uma perícia realizada no celular de Luiz Carlos Bezerra, apontado como operador do ex-governador Sérgio Cabral, revela "informações que podem servir de elementos probatórios que vinculam o governador Pezão a integrantes da organização criminosa chefiada por Cabral", diz a política federal.
No relatório da PF, aparece a anotação de "PeZao galo 2a falar felipe", de 30 de novembro de 2013. A polícia concluiu que “galo” significa 50, de acordo com o ditado popular. Portanto, a mensagem seria uma referência ao recebimento de R$ 50 mil. A perícia feita pela Polícia Federal também mostra que existia a amizade e a proximidade entre o operador e o governador Pezão.
A professora Lucília Aguiar diz que os funcionários públicos do estado receberam com indignação, a revelação do envolvimento do governador no esquema de corrupção. “O sentimento é de revolta. A gente tinha essa indignação já em relação ao ex governador Sérgio Cabral e muita desconfiança do Pezão. Aquela greve dos professores de 2013 marcou o início da crise que vivemos hoje no estado. Agora, vemos que enquanto a gente apanhava da PM, na rua, defendendo nossos direitos, ele recebia dinheiro da corrupção”, diz a professora da rede pública.
A servidora também critica as medidas adotadas por Pezão nos últimos meses. “Depois de todos os erros, o governador quer privatizar a água para pagar salários. As pessoas estão morrendo nos hospitais e por falta de salários. Professores aposentados, com 40 anos de sala de aula, recebem 700 reais parcelados, enquanto assistimos essas denúncias. Essa é nossa realidade hoje, isso é um total desrespeito com os servidores, com o ser humano”, afirma Lucília Aguiar.
Acusado de corrupção, com sua base aliada querendo desembarcar, Pezão parece cada vez mais acuado. Além disso, a privatização da Cedae (empresa pública de água) foi barrada pelo Supremo Tribunal Federal, uma derrota para o governador. E para fechar a semana, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani, cacique do PMDB no estado, deu declarações à imprensa na quinta-feira (22), afirmando que se crise no Rio se agravar a solução é "intervenção ou o impeachment de Pezão". Um pedido de impeachment, protocolado pela oposição na Alerj, está parado na mesa do presidente da Casa.
“Há um mês, o mesmo deputado Jorge Picciani que deu uma entrevista falando do desgoverno de Pezão, arquivou um pedido de impeachment protocolado pelo Psol. Ele mudou de ideia muito rápido. Depois, nós apresentamos um novo pedido de impeachment, com base na rejeição das contas do governo, feita pelo Tribunal de Contas. Obviamente que as razões pelas quais queremos a saída do governador não são as mesmas do deputado Picciani. Queremos o impedimento pelos crimes de responsabilidade que foram cometidos na área da saúde e da educação”, afirma o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol). Segundo Freixo, apesar do deputado Jorge Picciani estar de licença para tratar uma doença, continua pautando a política do estado, através de entrevistas à imprensa.
O Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa do governador Luiz Fernando Pezão. Em nota a assessoria afirma que o governador nunca recebeu recursos ilícitos, que continua à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos, mas não quis comentar a entrevista do deputado Picciani.
Edição: Vivian Virissimo