Em sintonia com os atos que ocorrem nesta quarta-feira (15) em todo o país, cerca de 10 mil trabalhadores estão reunidos em Brasília para engrossar o coro das manifestações contra a reforma da Previdência.
Os protestos começaram já na madrugada, com a ocupação da sede central do Ministério da Fazenda por mais de 1.500 integrantes de movimentos sociais do campo e da cidade. Por volta das 4 horas da manhã, os manifestantes chegaram ao local e deram início ao ato, pedindo a imediata suspensão da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, que institui a reforma. A matéria tramita atualmente na Câmara Federal.
“Não é aceitável que este governo, que sequer tem legitimidade, proponha alterações como as que estão sendo colocadas para a Previdência. Resolvemos ocupar o prédio do Ministério porque é aqui onde são pensadas todas essas maldades contra o trabalhador. É uma estratégia”, disse Alexandre Conceição, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Entre as modificações propostas pela PEC, estão a instituição da idade mínima de 65 anos e do tempo mínimo de contribuição de 25 anos para requerer a aposentadoria. Para ter acesso ao benefício integral, o trabalhador deverá ter contribuição comprovada durante 49 anos. Tais medidas valem igualmente para homens e mulheres.
“É uma crueldade com o trabalhador, principalmente com a gente que é mulher. Aposentadoria é um direito do povo, e a nossa vida já é muito sofrida porque é na roça e em casa”, desabafou a agricultora Valdevina dos Reis, de 61 anos, que está participando da ocupação.
Caminhada
Além do grupo que ocupa o Ministério, outros milhares de manifestantes protestaram ao longo da manhã pela Esplanada dos Ministérios. Eles saíram da Catedral de Brasília rumo ao Congresso Nacional e depois se somaram aos trabalhadores da ocupação.
“A nossa única saída neste momento é se unir e protestar contra essa medida tão absurda. O que o governo está querendo é repassar todo o ônus da crise para o trabalhador, mas estamos aqui pra dizer que não aceitamos isso”, disse o professor João Moreira.
Movimentos e entidades de defesa dos trabalhadores têm classificado a PEC como “contrarreforma”, argumentando que a medida anula conquistas históricas da classe. Para a vice-presidenta nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Carmen Foro, a proposta tende a inviabilizar a aposentadoria dos diversos segmentos trabalhistas.
“Ela atinge trabalhadores do campo e da cidade, incluindo servidores públicos em geral, principalmente nós mulheres. É uma tragédia para o conjunto da classe trabalhadora, por isso este Dia Nacional da Mobilização é muito importante pra nós. Derrotar a reforma é uma das nossas atuais prioridades, e vamos conseguir isso nas ruas”, bradou a dirigente.
Ao longo da manhã, a organização estimou um público de 7 mil pessoas, mas, por volta de meio-dia, o número chegou a 10 mil manifestantes, segundo informações oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
Parlamento
O ato contou ainda com a adesão de vários parlamentares da oposição. A deputada federal Jandira Feghalli (PCdoB-RJ) destacou que a minoria parlamentar conta com as forças populares para conquistar o voto de mais integrantes da base aliada governista e garantir a reprovação da PEC em plenário.
“É possível afirmar que, da forma como a proposta foi enviada ao Congresso, ela já não passa. A própria base, com algumas exceções, não quer votar desse jeito, e isso é voz corrente no DEM, no PMDB, em todo lugar. Precisamos de mais apoio das ruas para trazer mais parlamentares para o nosso lado e vencer a disputa”, disse Feghali, em entrevista ao Brasil de Fato.
A minoria conta com cerca de 100 votos do total de 513 deputados. Para aprovar a medida, o governo precisa de 308 votos, o equivalente a três quintos do plenário.
Na avaliação dela, a disputa atual envolve o combate aos pontos fundamentais da matéria. “Há um problema com relação à modificação que a base do governo aceita fazer na PEC, porque, se for pra mexer apenas de forma periférica, nós também não aceitamos. Isso não resolve o problema. Não tem perfumaria que dê jeito, por isso precisamos combater a essência da medida”, avaliou a deputada.
Além dela, estiveram presentes no ato o líder da minoria no Senado, Humberto Costa (PT-PE); e os deputados Alice Portugal (PCdoB-BA), Glauber Braga (PSOL-RJ), Paulo Pimenta (PT-RS) e Alessandro Molon (Rede-RJ), entre outros.
Edição: José Eduardo Bernardes