Em seus últimos meses de vida, o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro (1926-2016), ficou distante de atividades públicas. Pouco antes de completar 90 anos de idade, realizou seu último discurso, em abril deste ano, durante o encerramento do VII Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC). Na ocasião, ele falou do futuro do comunismo e da sua própria morte.
Com o falecimento de Fidel na noite desta sexta-feira (25), o governo de Cuba decretou nove dias de luto nacional, contados a partir deste sábado (26). Havana também anunciou que o funeral de Fidel será no dia 4 de dezembro, no cemitério Santa Efigência, na cidade de Santiago de Cuba. Mas o corpo do ex-presidente deve ser cremado ainda hoje, conforme a vontade do próprio Fidel, informou seu irmão e sucessor político, Raúl Castro.
Confira a íntegra de seu último discurso:
“É um esforço sobre-humano dirigir qualquer povo em tempos de crise. Sem eles[os dirigentes], as mudanças seriam impossíveis. Em uma reunião como esta, aos mais de mil representantes escolhidos pelo próprio povo revolucionário, que a eles delegou sua autoridade, significa a maior honra que receberam na vida, e a isso se soma o privilégio de ser revolucionário que é o resultado de nossa própria consciência.
Por que eu me tornei um socialista, de forma mais clara, por que eu me tornei um comunista? Essa palavra que expressa o conceito mais distorcido e caluniado da história por aqueles que tiveram o privilégio de explorar os pobres, despossuídos uma vez que eles foram privados de todos os bens materiais que proporcionam o trabalho, talento e energia humana. Desde quando o homem vive neste dilema, ao longo do tempo, sem limite. Eu sei que vocês não precisam dessa explicação, mas talvez alguns dos ouvintes.
Falo simplesmente para que se compreenda melhor que não sou ignorante, extremista, ou cego, ou que não adquirida a minha ideologia por conta própria estudando economia.
Eu não tive preceptor, quando era um estudante de direito e ciência política, naquelas em que eles tem um grande peso. Desde que tinha ao redor de 20 anos, gostava de esportes e de escalar montanhas. Sem preceptor para me ajudar no estudo do marxismo-leninismo; não era mais do que um teórico e, é claro, tinha total confiança na União Soviética. A obra de Lenin seria ultrajada após 70 anos de revolução. Que aula de história! Podemos dizer que não devem transcorrer outros 70 anos para que ocorra outro evento como a Revolução Russa, para que a humanidade tenha outro exemplo de uma grande Revolução Social, [como a] que significou um grande passo na luta contra o colonialismo e seu ajudante, o imperialismo .
Talvez, no entanto, o maior perigo agora pairando sobre a terra deriva do poder destrutivo das armas modernas que poderia minar a paz no mundo e tornar impossível a vida humana na superfície terrestre.
As espécies desapareceriam como os dinossauros desapareceram, talvez não haveria tempo para novas formas de vida inteligente ou talvez o calor do sol cresça até fundir todos os planetas do sistema solar e seus satélites, como muitos cientistas reconhecem. Se certas, as teorias de vários deles, que não são leigos ignorantes, o homem prático deve aprender mais e se adaptar à realidade. Se a espécie sobrevive a um espaço de tempo muito maior, as gerações futuras saberão muito mais do que nós, mas primeiro terão que resolver um grande problema: Como alimentar os milhares de milhões de seres humanos cujas realidades inevitavelmente colidem com os limites para a água e os recursos naturais que necessitam?
Alguns ou talvez muitos de vocês se perguntem onde está a política neste discurso. Acreditem, eu tenho vergonha de dizer isso, mas a política está aqui nestas palavras moderadas. Esperemos que muitos humanos se preocupem com essas realidades e não continuem como nos dias de Adão e Eva a comer maçãs proibidas. Quem vai alimentar as pessoas famintas da África sem a tecnologia na ponta dos dedos, sem chuva, sem barragens, sem depósitos subterrâneos cobertos por areias? Veremos o que dizem que os governos que quase em sua totalidade subscreveram os compromissos climáticos.
Devemos martelar constantemente sobre estas questões e eu não quero me extender além do essencial.
Devo, em breve, cumprir 90 anos, eu nunca teria pensado em tal ideia e isso nunca foi o resultado de um esforço, foi capricho da sorte. Logo serei, já como todos os demais. A todos nós chegará nossa vez, mas ficaram as idéias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se você trabalha com fervor e dignidade, é possível produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos necessitam, e nós devemos lutar incansavelmente para obtê-los. Para nossos irmãos da América Latina e do mundo, devemos transmitir que o povo cubano vencerá.
Talvez seja a última vez fale nesta sala. Eu votei em todos os candidatos apresentados para consulta pelo Congresso e agradeço ao convite e a honra de que me escutem. Felicito a todos, e, em primeiro lugar, ao companheiro Raul Castro por seu magnífico esforço.
Empreenderemos a marcha e aperfeiçoaremos o que devemos melhorar, com a máxima lealdade e força unida, como Martí, Maceo e Gómez em marcha imparável.
Fidel Castro Ruz”
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