Nesta segunda-feira (7), completam-se sete meses do assassinato dos trabalhadores rurais Vilmar Bordim e Leonir Orback, que moravam no acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu (PR). O MST ainda busca a responsabilização dos supostos culpados, mesmo após os suspeitos terem sido inocentados pelo inquérito do caso produzido pela Polícia Federal.
O assassinato dos trabalhadores foi consequência de uma ação da Polícia Militar (PM) com participação de um grupo de seguranças privados da empresa madeireira Araupel, conformou relevou o inquérito do caso. A ação deixou mais seis pessoas feridas. A área do acampamento, que abriga cerca de 2,5 mil famílias sem terra, é disputada entre a empresa e o MST: enquanto a Araupel afirma ser de sua posse, o movimento denuncia a utilização de grilagem de terras públicas pela empresa.
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O outro inquérito do caso, que segundo o advogado do MST, Bernardino Camilo da Silva, foi produzido pela delegada Anna Karyne Turbay Palodetto, foi arquivado pelo Ministério Público. Palodetto também foi responsável por coordenar as investigações da "Operação Castra" – que pediu a prisão preventiva de lideranças do acampamento na última sexta-feira (4).
"Houve a abertura de dois inquéritos. A Polícia Federal concluiu cerca de três meses após o assassinato que os policiais atuaram em legítima defesa e os inocentou. Eles alegaram que os trabalhadores sem terra atiraram primeiro e por isso a polícia revidou, o que é uma grande mentira, não conseguiram provar isso", afirmou Camilo da Silva.
Ele explicou ainda que o outro inquérito, por parte da Polícia Civil, nunca chegou a ser concluído. "A delegada responsável por essa investigação é a mesma que apareceu na reportagem do Fantástico falando sobre a "Operação Castra" e criminalizando o MST neste domingo (6). Ela fez a investigação para pedir as prisões preventivas sob o comando do titular da 15ª Subdivisão Policial de Cascavel, o delegado Adriano Chohfi", continuou o advogado.
Em uma fotografia recuperada neste final de semana, Adriano Chohfi aparece ao lado do deputado estadual Paulo Litro (PSDB), do chefe da Casa Civil do governo do Paraná de Beto Richa, Valdir Rossoni; e do diretor da própria Araupel, Tarso Giacomet.
Disputa
O conflito entre a Araupel e o MST na área de Quedas do Iguaçu teve início com a ocupação da área pelo movimento, em 2014. Os sem-terra reclamam de constantes ameaças por parte de seguranças e pistoleiros da empresa, com conivência do governo estadual e da Secretaria de Segurança Pública do Estado. O movimento alega que a Araupel foi uma das principais financiadores de campanhas políticas de autoridades públicas, como Valdir Rossoni.
"Há uma parceria público-privada contra os trabalhadores, a polícia atua em conjunto com agentes de segurança privada no acampamento Dom Tomás Balduíno, o que é totalmente ilegal. A Araupel tem grande poder econômico e junto com os serviços de inteligência, tentam criminalizar os trabalhadores que ocupam essas terras", explicou Camilo.
Para o advogado, existe uma relação entre o assassinato dos trabalhadores e a "Operação Castra". "É uma ação continuada, orquestrada faz tempo. A investigação já havia começado em março, antes do assassinato dos trabalhadores sem terra", continuou.
Segundo Camilo, o MST continua tentando alcançar justiça pelo ocorrido. "Existe uma conscientização interna do que está acontecendo e uma articulação para fora, com as autoridades progressistas e segmentos que apoiam a reforma agrária, para tentar demonstrar que essa luta é justa, que se tratam de terras públicas. Entretanto, é muito difícil provar isso por causa do bloqueio da mídia hegemônica, que produz reportagens como a exibida pelo Fantástico ontem, que criminaliza o movimento. A gente não consegue furar esse bloqueio", disse.
O Brasil de Fato solicitou um porta-voz para a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.
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