Cidades atingidas pela tragédia da Samarco no Vale do Aço mineiro estão sofrendo com a contaminação das águas do Rio Doce por metais pesados. Em um mutirão de trabalho de base, realizado recentemente pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em toda a extensão do Rio Doce, foram feitas diversas denúncias de pessoas com diferentes doenças de pele fruto do contato com a água, além de relatos de mortes de animais que consomem o recurso hídrico.
No distrito de Cachoeira Escura, na cidade de Belo Oriente (MG), os atingidos continuam dragando a água do Rio Doce para retirar areia, sem qualquer instrução da empresa ou equipamentos de proteção. Já os pedreiros de cidades vizinhas, que utilizam a areia para trabalho, têm apresentado manchas e feridas na pele.
Na cidade de Naque (MG), muitos pescadores não foram reconhecidos como atingidos pela Samarco. Apesar de a empresa ter proibido a pesca no rio Santo Antônio, afluente do Rio Doce para recuperação do rio pela lama tóxica, não apresentou medidas paliativas para os atingidos, que sofrem com alergias, coceiras e dores estomacais após contato com a água.
Antes do desastre, porcos, gado e galinhas se alimentavam soltos na zona rural da cidade. Hoje, no entanto, ficam presos, já que muitos animais por conta do consumo da água, e o gasto com compra de ração aumentou.
Em São Lourenço, distrito de Bugre (MG), a maioria das famílias é ribeirinha e utilizava o rio para pescar ou plantar, seja para comercialização ou consumo próprio.
Entretanto, muitos perderam animais que ingeriram a água do rio. Outro problema apresentado pelos moradores é que a água que consomem é retirada de um poço próximo ao rio, que não recebe nenhum tipo de tratamento.
A Samarco, porém, não reconhece a população de São Lourenço como atingida, e menos de dez pessoas da localidade recebem a verba de manutenção. A empresa se recusou até mesmo a analisar a água do poço em uma reunião realizada em que representantes da região compareceram.
Os moradores da cidade também utilizam o rio como transporte, e foram prejudicados quando a balsa usada por trabalhadores e estudantes ficou parada durante dias após o desastre.
Contraponto
A assessoria de imprensa da Samarco refuta as acusações e diz que "o rejeito não é tóxico, nem traz riscos à saúde, sendo classificado como inerte e não perigoso pela norma brasileira NBR 10.004", segundo testes divulgados em março "pela Fundação Gorceix, instituição vinculada à Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)".
Sobre as indenizações, a empresa afirma que "os critérios para a destinação do cartão de auxílio financeiro emergencial foram definidos em conjunto com o Ministério Público, e vêm sendo cumpridos pela Samarco. O valor estabelecido é de um salário mínimo, mais 20% do salário mínimo por dependente e o valor de uma cesta básica calculado pelo Dieese".
Já em relação às demandas individuais, a Samarco afirma que elas "serão tratadas dentro do programa de indenização, previsto no Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) assinado entre a Samarco e os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo" e "o programa já está sendo estruturado e deve ser iniciado em breve".
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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