Circo da Democracia

Circo da Democracia inicia dez dias de arte e política contra o golpe

Organizado por mais de 100 movimentos e entidades, evento prevê 30 apresentações artísticas gratuitas em Curitiba

Curitiba (PR) |
A estrutura faz parte do Circo Paranaense Zanchettini, que está na estrada há mais de 80 anos e coloca a quinta geração no palco e na organização dos espetáculos.
A estrutura faz parte do Circo Paranaense Zanchettini, que está na estrada há mais de 80 anos e coloca a quinta geração no palco e na organização dos espetáculos. - Fotos: Leandro taques

Um espetáculo de acrobacia seguido de reflexões sobre o futuro da democracia deu a largada e o tom do Circo da Democracia, na noite desta sexta-feira (5). O evento, que ocupará a Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba até o dia 15 de agosto, é organizado por cerca de 100 entidades e movimentos populares, entre eles a articulação Advogados pela Democracia, Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento Cultura Resiste. 

Mais de 700 participantes interromperam as saudações de abertura com as palavras de ordem "Fora, Temer" e "Fora, Beto Richa”. "'Fora Temer' para que ele leve consigo a sua navalha de cortar constituições", disse o professor e advogado Carlos Frederico Marés de Souza Filho, um dos entusiastas do Circo. 

"Estou aqui no Circo da Democracia, com muita alegria, muita combatividade, muita esperança, no dia das aberturas das Olimpíadas, em que o Brasil mostrou que não quer o Temer, não quer o golpe, não quer um governo ilegítimo", diz Emir Sader, sociólogo e cientista político brasileiro, que participou da abertura do evento. "O povo tem que estar nas ruas e tem que decidir o que quer para o país", defende o sociólogo.

"Construímos uma agenda linda de 10 dias. Para nós, trabalhadores e militantes dos movimentos populares, este circo tem uma importância enorme, que vai denunciar esse governo golpista que traz vários retrocessos para a classe trabalhadora", afirma Regina Cruz, sindicalista e Presidenta da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR). 

A lona azul e amarela do Circo da Democracia tem 1600 metros quadrados e 15 metros de altura. A estrutura faz parte do Circo Paranaense Zanchettini, que está na estrada há mais de 80 anos e coloca a quinta geração no palco e na organização dos espetáculos. “O espaço é grande o suficiente para caber a diversidade das pessoas que defendem a democracia”, garante Eduardo Faria, integrante da articulação Advogados pela Democracia e da equipe de organização do Circo. Segundo o advogado, a proposta do evento é dar espaço ao debate democrático e participativo, na contramão das manifestações de ódio que rondam o cenário político atual. 

Inspiração na Constituinte

Nesta mesma praça, em 1987, Marés coordenou a realização do Circo da Constituinte. "Era menor do que este, porque era um circo mais simples, um pouco mais pobre, com arquibancadas e não com cadeiras. Mas naquele circo se discutia exatamente o futuro do Brasil, se discutiu a Constituinte".

Para Marés, que integra a articulação dos Advogados pela Democracia, a Constituição construída democraticamente está sob ataque. "Exatamente neste momento se começa a romper, não cumprir, deixar de lado essa Constituição. Então, o Brasil tem que, novamente, voltar a discutir o que é a democracia, o que nós queremos, qual será o nosso futuro, o do povo e do Brasil inteiro", propõe.  

Diversidade 

Em menos de um mês, dezenas de reuniões presenciais e articulações via redes sociais deram corpo ao projeto. As centenas de organizações e entidades que aderiram à proposta deram envergadura para 21 grupos de trabalhos, dos mais variados temas. Uma das características da articulação e da programação do evento é a garantia de paridade de gênero e de representatividade de cada segmento da sociedade.  

"A gente nunca organizou um evento dessa dimensão. Todo o esforço foi para que fosse uma construção coletiva. Tivemos a preocupação de envolver o máximo de entidades possíveis. É esta diversidade que garantiu a qualidade do processo", explica a jovem Kellyana Veloso, advogada integrante do Coletivo Alzira e uma das cerca de 30 pessoas que esteve diretamente ligadas à missão de tornar o projeto ambicioso possível. 

"Foram dias de trabalho intenso, de 24 horas de mobilização para chegar a isso”, conta a advogada. Foi no dia 29 de julho, quando a montagem do circo entrou madrugada à dentro, que a jovem sentiu se concretizar o esforço. "Deu aquele ânimo, aquela certeza de que daria certo", relata Kellyana Veloso.

Além das acrobacias, reflexões sobre a democracia e das saudações feitas às entidades construtoras do evento, a abertura do Circo da Democracia contou com a apresentação de palhaços, equilibristas e malabaristas. Cerca de 150 artistas irão se apresentar ao longo da programação. Segundo a organização, todos os convidados aceitaram participar sem cobrança de cachê. Entre os convidados nacionais, o circo aguarda pela presença da presidenta Dilma Rousseff, na segunda-feira (8). 

Para ver a programação, acesse o site do Circo da Democracia

*Edição Camilla Hoshino 

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