Violência

Projeto ameaça fazer alterações na Lei Maria da Penha

PLC 7/2016 não passou por consulta de mulheres e pode conceder poder jurídico à atividade policial

São Paulo |
Se nas delegacias de mulheres, que são preparadas para esse atendimento, há problemas, imagina na comum”, pontuou Marina Ganzarolli, da Rede Feminista de Juristas
Se nas delegacias de mulheres, que são preparadas para esse atendimento, há problemas, imagina na comum”, pontuou Marina Ganzarolli, da Rede Feminista de Juristas - Antonio Cruz/ABr

O Projeto de Lei da Câmara (PLC) 7/2016, aprovado no dia 29 de junho na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, pretende alterar o atendimento de mulheres vítimas de violência e tem sido criticado pelo movimento feminista.

O PLC, que originalmente propunha aprimorar o atendimento às vítimas, recebeu sem consulta à sociedade civil um acréscimo que permite ao delegado de polícia conceder medidas protetivas de urgência às mulheres, e deve ser votado em breve no plenário da Casa.

O delegado poderá determinar a medida protetiva em caso de risco à vida ou integridade física e psicológica da mulher, com a responsabilidade de remeter a decisão ao juiz em até 24 horas para que possa tomar providências como a prisão. Ativistas do movimento feminista, no entanto, criticam o fato de não terem sido ouvidas sobre a alteração e acreditam que ela transformaria um problema estrutural em caso de polícia.

Estado da arte

Atualmente, a Lei Maria da Penha reúne outras conquistas para as mulheres, como o Programa Mulher Viver Sem Violência, que prevê a criação e integração de uma rede estadual com delegacia, sistema judiciário, unidades básicas de saúde, hospitais e Centros de Assistência Social. Além disso, foi criada a Casa da Mulher Brasileira para garantir dentro do mesmo espaço físico um atendimento jurídico e às mulheres vítima de violência.

A ministra da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, acredita que o PL surgiu porque alguns estados não cumprem plenamente essa estrutura. Para ela, as mudanças atingiriam diretamente a integração de outras ações necessárias ao acolhimento, um dos principais avanços da Lei Maria da Penha em sua opinião.

“As delegacias passam a ter um superpoder policial, retirando, mesmo em casos de medidas protetivas de urgência, a atribuição da expedição dessas medidas do Poder Judiciário especializado”, criticou, em entrevista para o site da Central Única dos Trabalhadores.

Gambiarra?

A advogada e cofundadora da Rede Feminista de Juristas, Marina Ganzarolli, acredita que a medida é uma "gambiarra" para mascarar os buracos na aplicação da lei em alguns estados como São Paulo.

"Temos gargalos na aplicação da lei como a ausência de delegacias 24 horas especializadas no atendimento às mulheres, mas resolvemos isso repassando a responsabilidade para quem não está qualificado a atender", afirmou.

Para Ganzarolli, o atendimento à vítima de violência seria ainda mais prejudicado com a aprovação do PL 7. "Não abordamos o real problema estrutural que é a Polícia Civil, que sequer está preparada para resolver os problemas do dia a dia, que tem apenas 53% do efetivo em atividade, 13 mil cargos vagos. Se nas delegacias de mulheres, que são preparadas para esse atendimento, há problemas, imagina na comum”, pontuou.

*Com informações da Central Única de Trabalhadores

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