Imagine... um lugar em que negros são a elite do país. Em que é feio ter cabelos loiros e lisos, enquanto a moda são os cabelos afro, as tranças, os black power. Esse é o mundo imaginário criado por professoras e alunos da Escola Municipal Moysés Kalil, localizada em Belo Horizonte, ao regravarem o vídeo “Vista a Minha Pele”, um filme que propõe uma inversão de papéis: pessoas brancas são colocadas no lugar dos negros no Brasil.
A ideia inicial foi trabalhar o problema da desigualdade racial com os estudantes, conta a professora Andréia Santana da Costa. A regravação do vídeo, feita em agosto de 2015, foi construída ao longo de seis meses com 40 estudantes do 5º e 6º ano, pais e funcionários da escola. Um trabalho que serviu para mostrar aos alunos que a discriminação contra negras e negros não é natural, segundo Andreia.
A valorização da consciência em relação à sua cor também influenciou os alunos no desenvolvimento escolar. “As crianças, que tinham dificuldade de alfabetização, começaram a ler e envolver toda a família na produção do roteiro”, conta Andreia. Em um dos depoimentos gravados à Secretaria Municipal de Educação, ao final do trabalho, pais afirmam que as crianças “se sentiram estrelas” e “acreditaram que podiam estudar e ser alguém”.
Vídeo estimula o “sentir”
O vídeo original foi produzido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert) em 2011, e conta a história de Maria, uma menina branca que sofre por não conseguir ser a rainha da Festa Junina da escola. Ela precisa vender votos aos amigos, mas todos os alunos, negras e negros, olham para a menina com discriminação. As pessoas ricas que Maria conhece são negras, os artistas da TV são negros, e ela é rebaixada pelo seu cabelo “escorrido”.
Hoje com quase 300 mil visualizações no site Youtube, a proposta nasceu da doutora em psicologia social e coordenadora do Ceert, Cida Bento, que acabou participando de toda a produção do vídeo.
Cida explica que o filme sai do campo da informação para trabalhar o racismo com o “sentir”. “O preconceito tem uma dimensão cognitiva e uma dimensão afetiva, emocional e ética. Eu posso fingir que não estou percebendo que discrimino alguém. Ignorando, menosprezando um aluno negro”, diz, “mas quando você veste a pele do outro você vê como aquilo dói”.
Indicação para salas de aula
A regravação do “Vista Minha Pele”, feita na Escola Municipal Moysés Kalil, foi enviada para a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte como ideia a ser seguida por outras escolas e utilizado também em processos de capacitação de professores. O vídeo original pode ser visto gratuitamente aqui.
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