Os jovens estudantes de escolas públicas são comumente tratados como gente que “não quer nada com a escola, ignorantes, politicamente alienados e, por vezes, violentos”. Essas representações estão na chamada “grande mídia”, e também aparecem volta e meia nas falas de profissionais da educação. No entanto, esses meninos e meninas “impossíveis” estão à frente do movimento político mais inovador que vimos surgir nos últimos tempos.
Os prédios em ruínas testemunham o descaso de sucessivos governos com a educação. Na imensa e antiga Visconde de Cairú, no Meier, os alunos se deparavam com ratos, quadra destruída, laboratórios sem uso, teatro quebrado, elevadores sem funcionar. A semelhança física com um presídio rendeu o apelido de Visconde de Carandiru, brincadeira que corre entre seus estudantes.
Mas também na novíssima escola Compositor Luiz Carlos da Vila havia infiltrações, mato alto e piscina sem uso acumulando água de chuva. Essa é a realidade das escolas em todo o estado do Rio de Janeiro.
Para a moçada das ocupações, denunciar esse horror foi muito pouco. Foi preciso colocar a mão na massa: desentupir sanitários, pintar paredes, reformar bancos, consertar, melhorar, capinar, iluminar.
E com isso descobriram muitas coisas ocultas. Salas sem uso, livros e equipamentos escondidos, instrumentos musicais sonegados. Uma infinidade de malvadezas. Tudo filmado e compartilhado nas redes sociais.
Saber vivo
Esses estudantes apaixonados por suas escolas se organizaram para garantir programações educacionais e culturais que encheram de saber vivo as antigas ruínas. Quem passou por alguma delas ou teve a experiência de ministrar uma oficina saiu com a certeza de ter aprendido muito mais do que ensinado.
Suas pautas concretas mostram que sonham alto: eleição de diretores (democracia) e mais aulas de sociologia e filosofia (liberdade de pensamento). A cada ponto na lista, uma asa que se abre nesse voo.
O movimento obteve conquistas importantes, mas a maior delas foi uma grande lição para todas e todos nós, nesse momento político tão difícil em que estamos: liberdade caça jeito.
Adriana Facina é antropóloga e professora do Museu Nacional (UFRJ).
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