Completando quase 12 dias de ocupação no prédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Fortaleza (CE), o movimento Ocupa MinC CE decidiu, em assembleia, não recuar com a ocupação, mesmo após a decisão do atual governo interino em recriar a pasta do Ministério da Cultura.
Segundo Marina Brito, atriz e uma das representantes do movimento, a análise feita pelo grupo é que o recuo do atual governo se dá por conta da resistência e do avanço do movimento em todo o país. “A ocupação teve início com a extinção do MinC, porém existem outras bandeiras do movimento que fazem com que a gente permaneça ocupando até a saída do presidente Temer, o qual consideramos golpista e ilegítimo”, afirma Marina.
Dentre as bandeiras levantadas pelo movimento para continuar com a ocupação, estão a volta das secretarias da Mulher, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos, das Pessoas com Deficiência, da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Agrário e da Comunicação, todas extintas junto com o Ministério da Cultura.
Em nota publicada pelo Ocupa MinC CE, o movimento acrescenta ainda ser contra “a redução do SUS e de programas importantes como o 'Minha Casa, Minha Vida'; a extinção da EBC [Empresa Brasil de Comunicação], o fim da política de valorização do salário mínimo, a intervenção na escolha do Procurador-Geral da República, o ataque aos direitos trabalhistas e a todos os desmandos que estão assassinando nossa democracia”.
A ocupação no prédio do Iphan, em Fortaleza, conta atualmente com cerca de 40 artistas que se revezam e se organizaram em comissões para manter o funcionamento da ocupação (alimentação, articulação, comunicação e programação). Durante todo o dia é possível participar de oficinas, rodas de conversas, exibição de filmes, aulas abertas, shows musicais, etc. É possível perceber constantemente a visita de pessoas e grupos organizados que chegam para dar apoio e levar doações. Marina Brito revela a preocupação com a infraestrutura para que o movimento não perca fôlego, “não estamos aqui porque somos desocupados, temos nossas vidas, é mais confortável estar em casa, é tanto que revesamos aqui na dormida, porque se não ninguém aguenta”, desabafa. Em sua página nas redes sociais o movimento publica diariamente sua programação além da lista de itens com maior necessidade na ocupação para que as pessoas se prontifiquem a doar.
Apesar do movimento Ocupa MinC CE ter surgido de forma espontânea, por uma decisão de cerca de 200 artistas em assembleia no dia 16 de maio, foi criado uma rede de comunicação entre as ocupações por todo o país para que informações possam ser compartilhadas entre eles com o objetivo de se criar uma unidade, sempre respeitando a autonomia e peculiaridades de cada cidade. O movimento criou uma rádio, que funciona por meio de um aplicativo de bate papo, onde cada cidade repassa suas atividades diárias e uma comissão nacional acaba editando e soltando diariamente para essa rede interna do movimento no país inteiro.
O dançarino Felipe Damasceno é um dos ocupantes do Iphan em Fortaleza e afirma que as reivindicações do movimento não se resumem à classe artística. “A extinção do Ministério da Cultura foi um motivo para unir a classe artística, porém a nossa causa é bem maior”. Felipe afirma que o motivo que o leva a ocupar o Iphan, “um lugar que também é seu, já que se trata de um prédio público”, é protestar e reivindicar direitos que estão sendo relativizados e resistir até a saída do presidente interino Michel Temer, o qual ele não reconhece como governo legítimo.
Na última nota pública divulgada pelo Ocupa MinC CE é possível perceber um movimento nacional das ocupações que reivindica o fim do atual governo, considerado ilegítimo que está retirando direitos adquiridos em um claro retrocesso de conquistas históricas da sociedade brasileira. Artistas do Ocupa MinC conclamam outros seguimentos da sociedade civil para se unir à luta “ocupando e resistindo”.
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