Militantes de movimentos rurais, servidores e gestores do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) promoveram na manhã desta sexta-feira (13) um “abraçaço” no entorno da sede do órgão, em Brasília. A ação é um protesto contra a extinção da pasta, cujas atribuições ficarão a cargo do novo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, anunciado pelo presidente interino Michel Temer nessa quinta-feira (12).
Os manifestantes interpretam a medida como um retrocesso no que tange às mudanças ocorridas no Brasil nos últimos tempos. “Nós esperávamos um governo de direita, mas não tanto. (...) Eles estão mostrando o que representam com muita rapidez. Quando acabam com o nosso Ministério, estão colocando de lado na história do Brasil os 4 milhões de famílias de agricultoras e agricultores, ou seja, mais de 16 milhões de pessoas”, bradou o agora ex-ministro Patrus Ananias (PT) em discurso dirigido aos presentes.
Para o dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Alexandre Conceição, o cenário atual pede uma maior atuação dos movimentos em prol das demandas sociais. “Eles duvidam da nossa capacidade de lutar e resistir, mas este governo Temer não terá um dia de paz”, assegurou, acrescentando que o MST pretende intensificar as ocupações a partir de agora e que por isso já está acampado em fazenda do interior de São Paulo ligada a Temer.
“Essa extinção foi uma decisão cruel e mostra nada mais do que a essência deste novo governo – golpista, machista, racista e fascista. Acho que agora os movimentos podem esperar o pior em termos de reconhecimento e de pautas da reforma agrária”, acredita Maria Fernanda Coelho, que ocupava o cargo de secretária-executiva do MDA.
União da esquerda
Os manifestantes presentes no “abraçaço” acreditam que o novo governo e a atual turbulência política podem sintonizar melhor os grupos de esquerda.
“O nível dos novos ministros, do ponto de vista ético, cultural, de compromisso com o país e de repesentação, é uma afronta aos sentimentos mais profundos da nacionalidade brasileira. Por isso o coração está dolorido, mas também estamos renascendo em novas fronteiras e novas lutas. (...) Eles podem esperar uma oposição vigorosa, forte, permanente e democrática, dentro dos limites da Constituição e do ordenamento jurídico do país, que eles quebraram”, garante Patrus Ananias (PT/MG), que agora retorna ao Congresso para dar seguimento ao mandato de deputado federal. Na ocasião, ele anunciou ainda que pretende constituir um conselho ligado ao seu mandato para articular os militantes através de assembleias e outras ações.
Na mesma linha do discurso do ex-ministro, o servidor do MDA José Augusto de Freitas considera que a nova composição ministerial anunciada por Temer aponta para uma maior criminalização dos movimentos, o que pede uma mobilização mais efetiva e permanente. “Já estão abrindo CPI da UNE, vão querer abrir CPI da CUT e outras mais, por isso temos que estar organizados, preparados e altivos para enfrentar a mídia golpista, a parcela reacionária do Judiciário e do Congresso, e para defender a democracia e as conquistas sociais dos últimos 13 anos”, afirma.
O Brasil de Fato procurou a assessoria de imprensa do novo governo para questionar o presidente sobre a extinção do MDA, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Edição: Camila Rodrigues da Silva
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