aquecimento global

Fronteira agrícola do Matopiba é a maior área emissora de CO₂ no Cerrado

Com desmatamento em alta, o bioma emite mais gás carbônico do que o setor industrial no Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Desmatamento avança sobre Matopiba, uma das áreas mais devastadas do Cerrado, e eleva emissões de gás carbônico - Divulgação/IPAM

De janeiro de 2023 a julho de 2024, o desmatamento no Cerrado brasileiro emitiu 135 milhões de toneladas de gás carbônico (CO₂, o principal gás causador do aquecimento global), quantidade superior às emissões do setor industrial no Brasil, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Dessas emissões, 80% vieram do Matopiba, região de expansão agropecuária, entre os municípios de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Entre 2019 e 2023, a área teve mais de 2,7 milhões de hectares desmatados, de acordo com dados da plataforma Mapbiomas. Por lá, avançam as monoculturas, com destaque para a soja.

A maior parte das emissões de CO₂ no Cerrado ocorreu em áreas de savanas, vegetação típica da região, caracterizada por árvores retorcidas e arbustos. A formação savânica é o tipo de vegetação predominante no Cerrado, ocupando 62% de toda a área de vegetação remanescente, e foi também a que concentrou a maior parte das emissões decorrentes do desmatamento: 88 milhões de toneladas de CO₂ emitidas no período analisado.

"Conservar o Cerrado é essencial para combater a crise climática no Brasil, sendo um bioma chave para segurança hídrica, alimentar e econômica", avalia Fernanda Ribeiro, pesquisadora do Ipam responsável pelo SAD Cerrado.

No entanto, a preservação do bioma esbarra no Código Florestal Brasileiro. "Mais de 60% da vegetação remanescente do Cerrado está dentro de áreas privadas e, pelo Código Florestal, essas propriedades podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos", explica a pesquisadora.

Estados do Matopiba lideram desmatamento e emissões

No raking dos estados, o Maranhão lidera o desmatamento no Cerrado entre janeiro de 2023 e julho de 2024. No período, foram emitidas 35 milhões de toneladas como resultado dos mais de 301 mil hectares de vegetação nativa desmatada. Além de líder nas emissões no bioma, o estado também lidera as emissões em formações campestres, que corresponderam a 6 milhões de toneladas.

No Tocantins, segundo colocado no ranking, os 273 mil hectares desmatados no estado resultaram em 39 milhões de toneladas de CO₂ emitidos. Tanto em 2023 quanto em 2024, o estado liderou a lista de emissões decorrentes de formações savânicas e florestais, que totalizaram, juntas, 38 milhões de toneladas emitidas - 98% do total do estado.  

O desmatamento no Cerrado da Bahia, que ocupa a terceira posição na lista de maiores desmatadores do bioma no período, foi responsável pela emissão de 24 milhões de toneladas de CO₂. É na Bahia que está São Desidério, o município mais desmatado do Brasil em 2023.

O Piauí, por sua vez, completa a lista de estados do Matopiba que ocupam as quatro primeiras posições do ranking de desmatamento e emissões, com 11 milhões de toneladas de gás liberado na atmosfera.

Edição: Nicolau Soares